terça-feira, 21 de janeiro de 2014

AMARRAS



Depois de a Amores Roubados, a mini-série da Globo encerrada na sexta-feira, assisti aos filmes Deixe a Luz Acesa e As Sessões, no domingo e ontem, respectivamente.

Esta sequência, obra do acaso, me fez construir, a partir dela, uma interpretação de momento.

Ninguém, nascido em meados do século passado, ficará impune. A explicitação da dor de ser, via a arte nunca nos permitiu tanto. Nossa infância e juventude foram permeadas pela imensa culpa, pelo mistério, pelo proibido essencial.

Passamos pela experiência com inúmeros e irreversíveis traumas, fomos forjados no corpo pelo medo, a transgressão e o fogo dos infernos, para não dizer dos perversos olhares de escárnio, preconceito e exclusão.

Este terceiro milênio abre com obras veiculadas na TV (especialmente a paga) levadas ao ar antes das oito da noite. Houve um tempo em que Ela mandava nossos filhos irem dormir depois do jornal, face aos absurdos relacionamentos expostos nas novelas.  Lá se foram vinte e poucos anos.

Ontem às 20:10 horas foi programada reprise de Deixe a Luz  Acesa, filme que retrata a trajetória emocional e sexual percorrida por dois homens que vivem experiências de amor, dependência e amizade. As 20:20 horas a telinha expunha uma das várias cenas de sexo explícito entre os protagonistas.
Antes do Jornal.
O documentarista Erik (Thure Lindhardt) e o enrustido advogado Paul (Zachary Booth) se conhecem casualmente em Nova Iorque. O que a princípio poderia ser apenas um encontro sexual fortuito, torna-se um relacionamento sério. Quer individualmente, quer como casal, Erik e Paul vivem intensamente todo tipo de riscos – compulsivamente e incitados pelas drogas e pelo sexo. Numa relação de quase uma década, marcada por altos e baixos e por padrões disfuncionais, Erik procura negociar os seus limites, enquanto busca a sua verdade.
Qual é a importância do sexo para a formação de uma pessoa? Em As Sessões esta questão é a aflição maior de Mark O'Brien, poeta e escritor que desde a infância está preso a um imenso aparelho, apelidado de "pulmão de aço", devido à poliomielite. Sem poder mexer os músculos do corpo, com exceção da cabeça, ele leva uma vida repleta de limitações, entre elas a de sair de sua própria casa – seus pulmões aguentariam trabalhar sozinhos apenas por cerca de três horas. Mark leva a vida com certo humor irônico, sem reclamar de sua situação. Entretanto, por jamais ter tido uma experiência sexual, ele se sente incompleto. É a partir deste ponto que o diretor Bem Lewin desenvolve uma história delicada, não apenas pelo modo como é desenvolvida, mas também por abordar questões que, ainda hoje, são consideradas tabus.
Tabus? Quais?
Parece-me residir aí a dor de ser, nos tempos que correm. Quer, vá lá! Está a disposição.


Até breve. 

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