terça-feira, 11 de setembro de 2012

TOSP




Ontem, quando saia do auditório onde havia acabado de dar a aula inaugural em uma faculdade de BH, um jovem veio me parabenizar e me pedir uma opinião.

- Meu pai está com cinqüenta anos e vive uma depressão profunda... Ele é fotógrafo, apaixonado pelo que faz, mas o mercado está péssimo e ele não consegue trabalho que lhe permita pagar as contas. O que eu faço?

Pai. Cinquenta anos. Depressão. Apaixonado. Mercado. Trabalho. Contas.

Durante os últimos dois dias inteiros eu estive em reunião com a direção de uma empresa que vive um momento delicado de caixa.

Empresa. Direção. Caixa.

Agora à noite, recebi mensagem de Pretinha com fotos de Liz.

Pretinha. Liz.

Desde domingo estou vivendo uma fragilidade física, uma disenteria aguda.

Disenteria.


Legal a gente ir levando o cotidiano e pinçando dele palavras que o narrem. Assim, mesmo, feio desse jeito: “o narrem”.

O mercado em depressão tem proporcionado uma disenteria de contas exigindo da direção da empresa um intenso trabalho de Caixa.

O pai de Pretinha, apaixonado, se delícia com as fotos de Liz.

O pai é quem exerce a direção da empresa. Foi acometido de uma tremenda disenteria quando tomou contato com as contas. Em cinqüenta anos ele nunca havia experimentado uma situação tão crítica de caixa. Como a ele, o mercado tem levado  muitos à depressão.

Apaixonado o avô de Liz se diverte com o trabalho de acessar as mensagens enviadas por Pretinha.

Liz tem dado um imenso trabalho para Pretinha.

Um trabalho apaixonado de um pai, quase em depressão, levou a direção de uma empresa a agitar o mercado pela decisão inédita tomada em reunião colegiada: durante os próximos cinqüenta anos as contas desse pai serão integralmente custeadas pelo caixa da empresa.

Você vê como as palavras podem tudo? Dê tratos à bola aí e construa tantas quantas forem narrativas a partir de palavras pinçadas deste texto.

De minha parte somente é verdade até disenteria.


Até breve.

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