sábado, 15 de setembro de 2012

HUMUS



- Guilherme!

- Oi, mãe...

- Quem foi que quebrou esse negócio?

- Num fui eu.

- Então quem foi?

- Um ladrão.

- Que ladrão, menino?

- Um preto...

- Preto?!!!

- Não, mãe... Cinza.

- Que história é essa, menino?

- É. Ele tem uma máscara preta grande...

- Mãe, eu acho que é o mesmo ladrão que pegou o meu batom e saiu riscando a parede...

- Ana, será que ele veio nos seguindo até aqui?

Essa e outras histórias preencheram a chegada, essa madrugada, de Rij e Perez em Arraial d’Ajuda, onde estamos desde a noite de quinta-feira. O protagonista é um sujeito de quatro anos e meio de idade, um dos netos de Perez e Rij. Ana Clara é sua irmã de treze.

- Que é isso, Guilherme? O que você está fazendo com essas cartolinas?

- Uma pirâmide, vô...

- E prá que ela serve?

- É onde moram as múmias...

- Múmias?!!!

- É, vô.

- E onde ficam estas pirâmides?

- No Egito.

- O que é Egito, menino?

- Um lugar cheio de areia.

Somada a estas, na praia W comentou conosco que um sobrinho dele encontrou um amigo nosso na empresa onde trabalha. Saiu um assunto relacionado à empresa onde W trabalha. O sobrinho dele disse que o tio trabalhava na tal empresa.

- W? Teria perguntado o nosso amigo comum.

- Sim. Você o conhece? Perguntou o sobrinho.

- WC?

- Ele mesmo.

- Comi muito...

Conosco está também D. Mar de oitenta e um anos de idade, mãe da esposa de W. Se ela é hilária, poucos minutos de praia depois, apreciadora de água que passarinho não bebe, D. Mar fica impagável.

- Vocês acham que eu bebo porque eu gosto? Não, eu bebo porque preciso.

Não deve existir vida com qualidade muito melhor do que estar junto a pessoas agradáveis e em lugar paradisíaco como a Praia Rio da Barra. Dosado à álcool em medidas que levem a um estado nirvânico de alma, rolando uma conversa em que o humor é o fio condutor de todos os assuntos, um banho ou outro em azul.

Tá bom, é verdade. Pode ser mesmo um privilégio.

Eu aqui com minhas quase certezas tenho prá mim que é fruto de uma construção cuidadosa de vários anos em que se foi tecendo os laços que nos unem nesse respeito e afeto recíprocos.

D. Mar, W e sua esposa, Perez e Rij em um dia inteiro de convivência inundaram nossa vida de algo que de quando em vez ocorre: o prazer de compartilhar companhia para dar ao singelo e adorável ócio um sentido inesgotável à vida.

Dentro de uma Kombi que nos levou da Mucugê, onde fica a casa de W, até a Praia Rio da Barra, Ela soltou uma de suas máximas:

- O amor não existe!

Apenas para nos deixar ainda mais claro que sentimentos não são para serem trazidos à linguagem, mas experienciados como a um sumo que demanda que se renove a cada sorva.

Ainda se tudo não bastasse, Pretinha via WhatsApp enviava fotos dando conta de por onde andava Liz.

Tem hora que eu sinto que pego na vida.


Até breve.

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