quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SINAL


Marisa Albuquerque sempre foi desse jeito. Ninguém, nem mesmo os mais próximos, tinham por ela alguma simpatia. O marido e os dois filhos a toleravam por força de circunstâncias.

Até que um dia, em um ônibus urbano, ela conheceu Antônio de Souza, um guarda noturno.
Ela voltava para casa após o trabalho e ele, amavelmente, cedeu a ela a passagem na entrada do coletivo. Marisa não agradeceu a gentileza e nem sequer olhou para Antônio.

Já dentro do ônibus um rapazinho levantou-se da poltrona e cedeu o lugar para Marisa. Da mesma forma ela não agradeceu e sequer olhou para o gentil rapazinho. Antônio, de pé, um pouco atrás do lugar onde Marisa havia assentado viu quando uma senhora puxou conversa com Marisa e ela sequer olhou para o lado, deixando a mulher constrangida.

Quando Marisa preparou-se para descer do ônibus, Antônio passou à sua frente e colocou-se próximo à porta de saída. Marisa descia o primeiro degrau quando Antônio colocou o pé na sua frente e ela precipitou-se ônibus a baixo, estatelando-se na calçada.

O rapazinho que havia cedido o seu lugar e a senhora que havia puxado a conversa exclamaram em uníssono:

- Bem feito!

Antônio desceu e:

- A senhora se machucou?

- Você me calçou, seu merda!

- A senhora que tropeçou no meu pé...

- Foi você que me derrubou.

Antônio pegou pelo braço de Marisa para ajudá-la a se levantar.

- Me larga... Eu me levanto sozinha...

Antônio disse às pessoas que se aglomeraram no momento da queda que ele cuidaria da acidentada e ao motorista do ônibus que ele poderia seguir viagem. Uma senhora saiu da casa onde morava, em frente ao ocorrido, com uma bolsa de primeiros socorros e convidou Marisa para entrar. Antônio de Souza acompanhou-as apesar dos protestos de Marisa.

- Vou levar você até a sua casa...

- Não preciso que ninguém me acompanhe...

Feita a limpeza dos ferimentos e curativos nas escoriações nos braços e pernas, Marisa deixou a casa sem sequer agradecer a mulher que havia lhe socorrido. Quando passavam pelo portão a senhora comentou com Antônio:

- Que mulher mais mal agradecida...

Quando começavam a caminhar:

- Não quero que você me acompanhe.

- Por que você é assim?

- Vá à merda!

- Em que rua você mora?

- Não te interessa!

Assim foi até que Marisa ligou seu celular.

- Jurandir?

- O que é, mulher?

- Tem um homem me seguindo...

- E daí?

- Daí que ele não larga de mim...

- Onde você está?

- Perto de casa, na Rua do Ouvidor, perto da padaria...

- Entra na padaria e me espere lá dentro.

- Tá bom.

Assim ela fez e Antônio resolveu não acompanhá-la a partir dali. Antônio a viu seguir e sequer voltar o olhar quando virou em uma esquina.

Na noite do ocorrido ela não conseguiu dormir. Debateu-se na cama sem conseguir tirar o rosto de Antônio da memória. Ela tinha certeza de que fora ele que deixara o pé de tal maneira que ela tropeçasse e caísse.

Nos dias seguintes Marisa de Albuquerque pegou o ônibus na expectativa de rever Antônio de Souza. Por diversas vezes chegou mais cedo no ponto e aguardou mais do que de costume para ver se ele apareceria.

Nunca mais o viu.



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