sexta-feira, 21 de setembro de 2012

LUGAR



Quem olhe pelas janelas dos apartamentos vizinhos deve se encantar, embora não consiga ver tudo o que se passa.

Ontem, por exemplo, foi possível assistir a uma cena. A jovem sentada na poltrona da sala, de quando em vez se levantava e, numa coreografia que se assemelha à caça de borboletas, dava saltos e com as mãos parecia querer capturar insetos.

Eu, que assistia e participava in loco da cena, tentava acalmar a jovem em sua empreitada.

- Pretinha, mas é só um pernilongo...

- Fecha a porta da sala, pai.

- Por que, filha?

- Ele pode ir para o quarto da Liz.

Assim tem sido. Vinte e quatro horas de dedicação exclusiva. Maternidade pura e plena.

- Pai, não brinque com ela quando ela estiver querendo dormir.

- Ela está querendo brincar, minha filha... Está olhando prá mim...

- Mas não brinque... Cante mais baixo, pai, senão você excita a menina e ela não dorme... Não balance muito, pai, ela acabou de mamar...

- Eu não estou balançando, filha, eu estou ninando...

- Ande só... Devagarinho. Você não vai descer as escadas com ela dentro do carrinho não, vai pai? Pai, põe o carrinho lá embaixo, depois vem buscar a Liz... É perigoso... Não deite ela assim não... Deixe ela de pé no seu colo... Depois que ela arrotar aí você pode deitá-la.

Vocês poderão considerar excesso de proteção por parte de Pretinha. Não é não, é pior. É puro afeto. Muito pouco tem interessado a ela do que não seja relacionado à filha.

Eu já disse aqui inúmeras vezes de quanto sou grato à vida, mas nada me dá mais motivos para fazê-lo do que estar podendo, diariamente, salvo poucas ausências, acompanhar o desenrolar de Pretinha enquanto mãe.

- Pai, essa noite ela dormiu cinco horas seguidas... Pai, ela agora já acompanha a gente com o olhar.

- Sei, e eu posso brincar com ela?

- Só quando eu disser.

- Tá bom.

- Ela é uma belezinha, não é vovô?

- Líndica!

Eu imaginava passar por uma experiência extraordinária com minha neta. Só que, antes de ser com Liz, tem sido com minha filha Pretinha.

- Pai, com quantos meses eu poderei engravidar novamente?

- Sua mãe ficou grávida de você depois de cinco meses do nascimento do Lé.

- É. Foi mesmo.

Tipo do diálogo que me interessa.  



Até breve.

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