quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

CINZAS



"A segurança é algo com que vocês, cruzados, só podem sonhar." Declaração de militante do EI antes de participar, recentemente, da decapitação dos 21 egípcios cristãos.

O Estado Islâmico (EI) tem se expandido para além de suas bases na Síria e no Iraque. A exemplo do que ocorreu com a Al-Qaeda, grupos afiliados ao EI tem surgido no Afeganistão, na Argélia, no Egito e na Líbia. Segundo o general Vincent R. Stewart, diretor da Defense Intelligence Agency, o EI "começa a expandir sua marca internacionalmente".

"Não queremos que nenhum membro do EI tenha a impressão de que, se mudar para algum país vizinho, estará basicamente num lugar seguro, longe do alcance dos Estados Unidos", afirmou o porta-voz de Obama, Josh Earnest.

"É um conflito real. Os membros do EI estão tentando criar um território separado da ampla coalizão islamista e os estão desafiando em seu próprio terreno", disse Frederic Wehrey, do Carnegie Endowment. "Ao mesmo tempo, outros extremistas estão se desligando, atraídos para o EI e ficando mais audaciosos."

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Enquanto isto, Roberto Damatta em sua crônica de hoje no Estadão, a propósito de tese do brasilianista inglês Richard Moneygrand, escreveu:

“O carnaval seria um ritual - uma cena fixada para ser repetida - dinamizado pela igualdade substantiva de todos perante todos; e não pelo igualitarismo político burguês ou liberal de todos perante a lei. Trata-se de uma festa em que a ênfase no corpo mascarado, nu ou fantasiado dos participantes desnuda, num desabafo, um sistema hierarquizado, aristocrático e legalissimamente autoritário. Uma sociedade familística e alérgica a qualquer forma de equidade, precisa de um suspiro de igualdade e individualismo. O ideal carnavalesco de ter uma licença limitada para 'fazer tudo' até mesmo competir, só ganha essa força porque vocês, sendo católicos, marcam com o excesso os últimos dias do advento, o qual vai se abrir para a Quaresma e para a Semana Santa. O nascimento do Cristo, por contraste com a sua paixão e ressurreição, são dinamizados pela igualdade festiva da carne e pelas cinzas humildes da disciplina dos tempos em que os santos se cobrem de roxo. Antes, porém, de abandonar (levar no velho latim) a carne (cerne-vale); permite-se a bagunça de exagerar o seu uso. Antes do luto cinzento, o mel brilhante viscoso e ardente da carne.

Se o centro do carnaval era celebrar abertamente a malandragem e a esbornia do igualitário, relativizando o luxo dos aristocratas e o poder de impunidade dos poderosos, teria isso algum valor festivo no Brasil de hoje?

Atualmente, falou o velho brasilianista um tanto sério, ocorre um escândalo carnavalesco todos os dias. O governo, mascarado, mente carnavalescamente. Acabou-se o riso alegre dos papéis invertidos. Hoje, o guardião dos recursos públicos é o primeiro a roubá-los. O dinheiro do povo é posto aos bilhões em bancos estrangeiros. Virou uma rotina a afinidade predatória do Estado para com a sociedade. Se não há mais ordem, como - pergunto eu - viver uma festa da desordem? O carnaval tornou-se banal, medíocre, trivial e diário”.

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Notícia também publicada hoje no Estadão: “A Justiça suíça abriu uma investigação por lavagem de dinheiro contra o banco HSBC e policiais fazem uma operação de busca e apreensão na sede da instituição em Genebra na manhã desta quarta-feira, 18. O processo foi aberto depois que uma rede de jornais revelou que o banco havia ajudado 100 mil clientes de todo o mundo a abrir contas na Suíça e fugir do controle de seus países. Mais de 8,7 mil contas tem uma relação com clientes brasileiros, entre eles ex-funcionários da Petrobrás”.

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Ah, me lembrei de outro ponto. Hackers, há coisa de dois anos, veem “atacando” contas bancárias de megaorganizações transnacionais fazendo estragos monetários de alta monta. É o tipo de notícia apocalíptica que se alastrar é muito mais aterrorizadora do que qualquer decapitação coletiva.

Hoje, no Brasil, os bancos e o comércio abrem suas portas ao meio-dia.

Nossa vidinha volta ao normal.



Até breve.


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