terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

ALERTA



Acordei sobressaltado nesta madrugada. Na cena do pesadelo minha mãe repreendia-me severamente:

- “Respeite as pessoas, menino! Um dia você terá a idade dela e não gostará nada de que façam contigo o que você está fazendo com ela agora! A próxima vez que eu souber ou ver que você está zombando da Dona Zenólia eu vou colocar você de castigo de cara para a parede, você me ouviu”?

Nós morávamos vizinhos a uma numerosa família constituída por membros de várias gerações. Dona Zenólia era o mais velho integrante dessa família e a cada dia sua senilidade tornava-se mais aguda.

Em outras palavras: ela tinha ficado caduca.

Nada mais hilariante para um garoto do que os atos insanos daquela senhora. Eu estava sempre lá, todos eram muitos gentis e, embora não tivesse nenhum menino de minha idade no clã, eu gostava de ir para lá. Claro, sobretudo, para guardar minhas gargalhadas dos disparates absurdos de Dona Zenólia.

Lembro-me agora que os selemeleques da pobre mulher viravam repertório para eu compartilhar com meus amigos de rua e colegas de escola. Já bocudo, naquela época eu sempre aumentava, ou dava um tom mais exagerado às atitudes da infeliz. E ria às bandeiras desfraldadas junto com os meus amigos. Eles me pediam incessantemente para que eu os levasse qualquer dia para presenciar.

Meu medo de minha mãe era tão grande que, mesmo eu tendo pensado em cobrar ingresso para levar um par de meninos de cada vez à casa vizinha, isto eu nunca fiz.

Era só eu chegar na roda e a turma ia logo pedindo: “Conta aí, Lozinho... O quê que a maluca aprontou agora”?

Ela se maquiava toda com borrões que lhe davam um aspecto aterrorizante, colocava vestidos do lado avesso, calçava sapatos com os pés trocados ou um de cada par, dizia disparates incompreensíveis e, invariavelmente, quando alguém se aproximava dela ela virava-se para o lado e perguntava a alguém que estivesse mais próximo: “Quem é?” Muitas vezes era um filho ou uma filha ou um neto. Eu ela sempre dizia: “Quem é este menino que não sai daqui de casa”?

Inúmeras vezes ela saia de seu quarto e entrava abruptamente na sala de visitas e dizia: “Olha o que eu achei”! Nas mãos ela apresentava tudo o que encontrasse pela casa. Roupas íntimas dos familiares, panelas, vassouras e todo tipo de objetos. Do jeito que ela entrava saía da sala e de repente voltava trazendo outro achado.

Nesta madrugada acordei sobressaltado porque a cena do pesadelo que vivi dava conta de certa vez que Dona Zenólia entrou na sala de visitas com um urinol (pinico) na mão e disse com sua expressão mais ensandecida:

- “Olha a merda que eu achei”!

Será que eu estou vivendo praga de mãe? Ou será que estou ficando caduco? Vou logo avisando a todos: quem sair aí falando do que apresentei no último post ou em eventuais vindouros eu colocarei todos de cara para a parede, ouviram?

Aguardem-me. Eu só vou ali e já volto.




Até breve.

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