domingo, 22 de fevereiro de 2015

SEISMAISTRÊSNOVENOVESFORANADA




Hoje se inicia a semana em que completo meu sexagésimo terceiro ano. Vida que me privilegiou, até aqui, com bens preciosos: boa saúde, uma companheira, três filhos e três netos (o último carrega em seu sobrenome o nome pelo qual eu sou mais conhecido).

Penso que não causei males profundos e nem fiz bens relevantes.

Modesta e trivial passagem.

Estive sempre mais atento à Humanidade que ao Homem. Optei por dirigir meu olhar mais para a História do que para o Tempo. Mais para as circunstâncias do que para seus efeitos. Mais para o contexto do que para o texto.

Acabei optando por uma marcha para a solidão.

Olhar na dimensão da floresta ofusca minha visão às árvores. Não convivo com ninguém que assalta meu cotidiano, tenho pavor do coloquial, do aqui e agora, questiúnculas da vida em sociedade.

Reconheço-me na presunção e na agressividade espevitada de um nariz que fita de cima, até porque não enxergo nem quem está ao meu lado. Nos raros e breves momentos de reflexão, sempre me sofro disso. É óbvio que dói.

Volto logo ao meu altismo autista. Não há arte senão no bordejamento.

E com que Arte me compenso? Seguramente não é a Literatura. Nem a Crítica. Sequer a Consultoria em Governança. Banais, hoje, mais do que outras, ainda.

Compenso-me pela arte de não ter inimigos, nem ódios, nem articulações perversas intrigantes. Compenso-me pela arte de cumprir compromissos, inclusive os mais prosaicos, como pagar as contas do sustento.

Compenso-me pela arte de sentir, no mais profundo, afeto intenso por Noninha, Tim e por Antônio, que nos seus primeiros olhares antes de completar noventa dias de vida, vislumbrou afinal, sexta-feira agora, contornos de parte de suas origens. E até sorriu, cândido.

Compenso-me sobre mata verdejante que me assola, nesse lugar que escolhi, edifiquei e que, espero, enterrarão minhas cinzas.

Compenso-me por ser simples, embora não pareça, em contentar-me com vestes liminarmente pudicas, sem afetações contemporâneas. Quando posso, passo dias com as mesmas.

Compenso-me pela arte de ser desnecessário.

E, ainda assim e exatamente por isto, ser indispensável. O que seria da Humanidade não fosse a Arte? 

Apenas o Homem, essa besta lamentável, tosca, desnecessária.




Até breve.

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