domingo, 21 de setembro de 2014

ÚNICA



Há na sala da casa na qual fomos recebidos para uma cerimônia do chá uma inscrição que significa: UMA CHANCE.

O sentido é de aquela experiência deve ser vivida como única. Ninguém que está ali tem certeza que ela poderá se repetir um dia, assim como a vida.

Da cerimônia, que no passado era preparada exclusivamente por e para os homens, os samurais, hoje participam predominantemente mulheres em número muito reduzido de praticantes.

O ritual é rigoroso com um processo que envolve mais de trinta e poucas etapas, repetidas a cada vasilha que é servida aos convidados. Logo no início o grupo responsável pelo preparo nos passou um cartão no qual estão escritas as palavras que deveriam nortear nossa conduta enquanto estivéssemos ali: HARMONIA, RESPEITO, PUREZA E SERENIDADE.

O Japão tem no xintoísmo e no budismo suas religiões principais. Católicos (0,4%) e protestantes (0,6 %) são minoria. No entanto, 90% dos japoneses são xintoístas, 80% budistas e no Natal, 100% cristãos. Assim mesmo, sincretismo puro segundo conveniências. Viva a modernidade!

Durante o dia são budistas, amantes da disciplina e do trabalho. À noite são xintoístas, desfrutam o saquê, arroz e gozam a vida.

São batizados no xintoísmo, fazem o funeral no budismo – para adquirirem a vida eterna – e se casam no catolicismo.

O xintoísmo é politeísta, tem oito milhões de deuses, ou seja, todos os elementos integrantes da natureza. Tanto assim que nos santuários não há representação de nenhum deus.

O Japão desde 660 a.C. até hoje foi governado por 125 imperadores. O primeiro, dizem, desceu dos céus e era bisneto da deusa do sol. Até o ano de 1868 os Shoguns título que os japoneses davam aos proprietários de terra, durante o período feudal, do século XII até meados do século XIX, e aos "chefes militares" que dirigiam o governo, em detrimento da autoridade do imperador, cujos poderes eram simbólicos.

Esses caras mantiveram o país fechado a toda e qualquer influência externa até que surgiu o Imperador Meiji que governou ( de fato) o país durante trinta e cinco anos, período em que o Japão experimentou uma acelerada modernização.

Seu filho Hiroíto o sucedeu ficando no trono de 1901 até 1989. Hoje Akihito, filho de Hiroíto e, portanto, neto de Meiji é o único monarca do mundo que detém o título de imperador e não goza de nenhum poder político.

Akihito tem 78 anos e mora com a esposa imperatriz no Palácio Imperial instalado em uma área central de Tóquio de um milhão de m² - ninguém reclama – e teve três filhos: dois homens e uma mulher.

A filha do Imperador se se casar perde o título de princesa. Ela hoje cozinha, vai a supermercados, dirige seu próprio automóvel e está casada com um funcionário público.

A cidade é deslumbrante, o povo gentil, simpático, educadíssimo. Passeamos por uma avenida larga mantida durante todo o dia fechada para o trânsito exclusivo de pedestres. Fica no bairro de Ginja onde estão instaladas lojas das melhores marcas do mundo e, provavelmente por esta razão, o metro quadrado custa algo perto de duzentos mil dólares.

Respirar em dois mundos, o da tradição milenar contrastando com o que há no estado da arte na modernidade foi uma chance.

Amanhã vamos para Quioto, capital do país até 1868 e que não foi golpeada quando da segunda grande guerra.

Se não estiver o tempo nublado vamos nos deparar com o Monte Fuji. Um outro chá.





Até breve.

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