domingo, 16 de fevereiro de 2014

LUTO



Lembrei-me do episódio ocorrido em 15 de abril de 2013, quando duas bombas foram explodidas durante a Maratona de Boston e em que morreram três pessoas e feriram mais de 170. Os responsáveis foram dois irmãos nascidos na Chechênia, jovens de 26 e 19 anos, um deles morto por policiais e o outro capturado.

Enquanto eram mostradas as fotos dos suspeitos logo após o atentado as autoridades tinham dificuldade de distingui-los de milhões de outros jovens que foram para os USA para forjar um futuro. Elas se perguntavam como eles podiam ter se tornado terrorista e colocado bombas poderosas entre uma multidão inocente.

Mais tarde, descobertos e identificados, as autoridades concluíram tratar-se de muçulmanos que viveram toda a infância e juventude sob o horror dos conflitos bélicos na Chechênia.

Agora, no Brasil, estes dois meninos de 22 ou 23 anos, quase julgados como terroristas.

Terrível paralelo. Em ambos os casos são jovens que não viveram tempos felizes. Lá, como aqui, o terror é onde se nasce.

Dizer que isto não os isenta de responsabilidade não basta, porque é óbvio. O que não se pode perder de vista, contudo, são as circunstâncias que, em permanecendo, criarão outros e cada vez mais grave.

A Sociedade não pode mais querer punir o criminoso e não tratar das circunstâncias que podem estar fomentando crimes.

O terror é a miséria, o descaso, a desesperança, o abandono, a ignorância, a falta de perspectiva.

O terror é oitenta e cinco pessoas deterem 50% da riqueza mundial.

O terror é a ausência de futuro.

O terror é a fala da esposa do cinegrafista: “Estes meninos não têm amor ao próximo”.

Nosso conformismo tem nos levado aos culpados para não nos fazer tratar das culpas, pois é muito mais fácil. Com a prisão de criminosos repara-se o crime, embora permaneçam as circunstâncias.

A vigilância da mídia, o espaço urbano big brother, facilita a existência da Cidade Alerta. Onde houver um crime, serão flagrados os criminosos, identificados, presos e lançados ao hediondo mundo do nosso equívoco.

O terror é a nossa isenção e por força dela vamos chegar à pena de morte. Da nossa morte porque ninguém estará salvo de um rojão que lhe retire a consciência de sua responsabilidade.

A morte social é o terror.



Até breve.

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