sábado, 13 de outubro de 2012

ÁGUA



Já disse aqui que deve ser terrível, para quem escreve, a falta de assunto. Neste blog isto é minimizado na medida em que quatro ou cinco autores contribuem com seus posts sempre sob o mesmo pseudônimo. Eu, como editor, é que controlo as publicações que deveriam ser diárias, mas nem sempre as produções ficam a altura da proposta.

Vocês não imaginam como isto se torna, quase sempre, uma árdua tarefa. Esses cinco autores, de quem Narciso teria distância, sempre acham que devem ser privilegiados na publicação.

O família e amigos sempre considera que seus assuntos têm prioridade, já que o que tem valor essencial são os vínculos fraternos. O político, afetado e angustiado, que em Atenas aprendeu que veio de lá a palavra “idiota”: é todo aquele sujeito que não se ocupa da política. Tem o cronista que, sob o enquadre de OLHAR, se mete a opinar sobre fatos e dados do cotidiano e sempre acha que é isto que os leitores procuram. O crítico de arte é o que mais me dá trabalho, já que suas abordagens são nada intelectuais, mas viscerais, e ele também sempre acha que a arte é que transforma e que, portanto, deve ter prioridade.  O corporativo, que tem participado pouco, acha que seu assunto poderia até ser objeto de atenção dos leitores, mas ele prefere dar espaço aos seus colegas de redação.

A resultante do conflito de prioridades me parece que fica explicitado no post mais acessado do blog, aquele em que todos eles não tinham nada a dizer.

Muito bem. Qual autor deve ocupar o espaço de hoje?

Isto me fez lembrar de Pirandello, dramaturgo que escreveu: “Seis personagens a procura de um autor”, um  texto primoroso.

Ontem o post publicado, de manhã, recebeu o título de FOGO. Até agora estou sem entender porque, lido o conteúdo. Ocorre que, no início da tarde, me deparei com uma nuvem densa de fumaça vinda da mata, acionei a vigilância do condomínio que me retornou dizendo que focos de incêndio tinham iniciado na segunda-feira e que eles estavam atentos.

No início da noite o fogo alastrou-se e tomou proporções perigosas. Oito pessoas que prestam serviços ao condomínio embrenharam-se na mata e, na medida do possível, tentaram controlar a expansão da queimada.

Fui para próximo e confesso que fiquei angustiado. Um sentido primitivo tomou conta de mim e eu me pus a olhar para o céu e pedi repetidas vezes que chovesse, sem muita esperança uma vez que estrelas insistiam em brilhar.

Por volta das dez horas da noite ela veio majestosa, lenta, fina, fria e suficiente. No início da madrugada tornou-se mais densa, forte e intensa, lavando o dia insalubre, a poeira, o gosto áspero da garganta. E, sobretudo, apagou todos os focos de incêndio.

Hoje cedo, os autores deste blog me disseram que eu me tranquilizasse: todos de acordo com a idéia para o post de hoje. Escrever é um incêndio de mata interior e só se debela quando fica cristalino.


Até breve.

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