domingo, 19 de agosto de 2012

ISPERTOS



Ontem, final da tarde, fomos lanchar na casa de Elde e Elia. Fazemos esse programa há vários anos, pelo menos uma vez a cada mês. Às vezes ocorre de se repetir com maior freqüência, às vezes se espaça. Mas é um programa incorporado à nossa vida.

Elde e Elia são amigos do condomínio em Santa Luzia. Frequentava os lanches, aos sábados, outro casal amigo: Laza e Cid. Laza e Cid mudaram-se há coisa de uns dois anos.

Enquanto estávamos os três casais vivemos momentos inesquecíveis, aos sábados. As mulheres tricotando suas intrigas, maledicências, cortes e costuras e outras feminices. Nós, os três, nunca tivemos uma conversa que pudesse ter enriquecido o espírito ou à inteligência, mas o fígado por força daqueles momentos ganhou sobrevida.

Elde é um sujeito ímpar pela sua ingenuidade e Laza um canalha. Essa composição juntando à minha ironia perversa dava uma combustão extraordinária. Elde era vítima e se servia como tal com maestria. Aprontávamos eu e Laza prá cima de Elde e, como resultante, eram gargalhadas de perder o fôlego.

Qualquer um que não soubesse do patrimônio vivencial do trio, que chegasse inadvertidamente, pensaria que éramos inimigos mortais. Especialmente Laza e Elde, vizinhos de áreas contíguas.

Certa vez esses dois viajaram para o Rio de Janeiro, instalando-se em Copacabana. Passaram o dia inteiro na praia e tomaram todas e beliscaram de um tudo. O garçom trouxe a vultosa conta e apresentou-a a Laza:

- Só isso?!!! Gritou Laza.

O garçom tomou um susto.

- Você sabe quem é aquele sujeito ali? Indagou Laza ao garçom apontando para Elde que, à distância, não participava da conversa.

- Não, respondeu o garçom.

- Tá vendo aquela cobertura... e aquela outra... e aquele prédio mais ali adiante? É tudo do meu amigo ali. Como que você apresenta uma conta tão baixa?

O garçom incrédulo só melhorou quando Laza:

- Amanhã nós vamos voltar aqui e você faça o favor de dobrar o valor da conta pra ele pagar, entendeu? Ele não costa de pagar conta pequena... Tem dinheiro prá ...

Até ontem, Elde não sabe por que no dia seguinte do episódio o garçom só faltou levá-lo a força para que Elde sentasse à mesa do bar em que servia. Laza logo que saiu do bar no dia do episódio teria dito a Elde:

- Esse bar é muito ruim, amanhã vamos a outro.

Noutra viagem, na mesma Copacabana, Laza escolheu aleatoriamente um sujeito e pediu a esse que fosse ao encontro de Elde.

- Ei, o senhor é o Elde?

- Elde? Sou eu, por quê?

- Elde, o grande craque de Divinópolis?

- Eu mesmo.

- Eu não acredito! Estou tão emocionado...

- Como você me reconheceu? Perguntou o idiota do Elde com as mãos nas cadeiras, peito estufado prá frente e com o olhar de celebridade para o sujeito pago pelo Laza para surpreendê-lo.

Noutra viagem ainda, na mesma Copacabana, Laza insistiu para que Elde comprasse um daqueles óculos escuros vendidos por camelôs ao longo da praia. Elde comprou e passou a usá-los. Em certo momento aproximou-se um casal de amigos de Laza, empresários bem sucedidos e famosos no Jet Set carioca. Elde encheu-se de importância quando Laza convidou o casal para sentarem-se junto a eles. Elde fez pose e dirigiu-se ao empresário para fazer uma colocação qualquer, quando as lentes dos óculos Cartian desprenderam-se da armação e acertaram em cheio o rosto do empresário.

Em outra oportunidade, Elde comprou uma garrafa de vinho na padaria próxima ao apartamento em Copacabana onde eles ficavam hospedados. Quando chegou de volta ao apartamento, Elde abriu a garrafa e constatou que o vinho estava estragado. Chamou Laza para ir com ele à padaria para reclamar.

Chegando à padaria, encontraram uma fila imensa e Laza ficou esperando Elde na calçada. Quando Elde chegou à atendente e fazia o maior carnaval por conta da garrafa de vinho estragado ele surpreendeu-se com Laza lá atrás na fila.

- Ô menina! Manda esse cara ir pastar! Quê sujeito mais besta esse... Ô cabeção, libera a fila aí, ô idiota...

Laza é um canalha. Divorciado da primeira mulher havia alguns meses, ele sentiu falta das reclamações da ex-esposa quando ele escapulia para as noitadas. Laza então pediu a uma amiga que ela gravasse em fita cassete os reclames de sua ex-esposa. Assim, quando ele ia sair, já divorciado e morando sozinho, Laza colocava a fita e ouvia a gravação da amiga imitando a ex-esposa:

- Já vai, né seu vagabundo? Vê lá que hora que você vai voltar, viu seu irresponsável?

E quando ele voltava para casa, Laza colocava outra parte gravada:

- Isso são horas de chegar, infeliz?

Só depois Laza ia dormir o sono dos ébrios e livres.

Acabei ocupando-me mais de Laza do que de Elde. De qualquer forma, ontem quando saíamos da casa de Elde depois de nos fartarmos, estávamos já na rua ele saiu com essa?

- Agulhô, você sabe o que me aconteceu hoje?

- Não, o que Elde?

Elde e Elia haviam ido almoçar fora, quando voltaram Elde parou o carro na frente da garage. Acionou o controle remoto e o portão não abriu. Elde desceu do carro e pulou a grade da frente de sua casa já que o acesso só é possível pelo portão da garage. Elia também fez o mesmo e ficou preocupada com o surto psicotérmico do marido que, aos gritos:

- Só faltava essa! Essa merda desse portão não funcionar!

Foram ambos, para se acalmarem, regar o jardim pensando em ter que mandar arrumar o “desgraçado” do portão. Somente na “merda” da segunda-feira quando achassem um “infeliz” de um mecânico para arrumar a “porra” do portão, além do que o “porcaria”do carro teria que dormir na “bosta” do sereno.

Refeitos do desgaste, regadas as flores do imenso e maravilhoso jardim, Elde colocou-se de frente ao portão do lado de dentro da casa e acionou o controle remoto.

- Elia, a merda do portão abriu!!!

Nosso condomínio fica dentro de uma mata. Agosto venta muito. Com freqüência há problemas na rede elétrica por força de galhos que colidem com a rede fazendo com que as chaves de segurança do sistema se desarmem. Ontem aconteceu. Pouco tempo depois, a companhia recuperou o defeito.

A besta esqueceu-se de que o portão é eletrônico.


Até breve.

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