sexta-feira, 17 de agosto de 2012

FUNÇÃO


Adriana Varejão e outros artistas de igual e/ou maior calibre não têm razão. Estou mais com Ney Matogrosso e Brecht. A arte tem função e negá-la ou não reconhecer pode redundar em grande equívoco. Eduardo Galeano também está correto quando diz que o território artístico serve ao ego inflado dos próprios artistas e suas pavonices.

Reside aqui, então, o grave.

O movimento hippie que nasceu para negar o que estava posto, especialmente a guerra do Vietnam, foi um dos movimentos de arte mais expressivo do Sec. XX. “Faça o amor, não faça a guerra”, foi um dos versos ou inscrição panfletária que mais fizeram a cabeça do planeta jovem. A minha, inclusive.

E todos éramos pavões, sim. Lembro-me com os cabelos aos ombros, barba por fazer, chinelos (de couro) de dedo com sola de pneu, sacola de pano surrada e, quando ouvíamos algo que tinha a ver, a gente completava: falou e disse.

Assim como o movimento de arte hippie outro movimento de arte surge e se expande na mesma época e com brilhantismo acachapante: o marketing de massa. As grandes indústrias, bancos, companhias de cigarro e bebidas contrataram inúmeros brilhantes artistas: redatores, desenhistas, arquitetos, diretores de arte, cineastas, roteiristas, músicos, sonoplastas, fotógrafos que, com sua extraordinária capacidade de comunicação satanizaram com o que era puro, quase ingênuo. Nosso inconsciente coletivo nutria uma puta de uma utopia. É da época, Imagine de John Lennon.

Fuderam com tudo.

A vida passou a ser o carro, a casa, a conta no banco, a salsicha, a margarina, o corpo, o aparelho de TV, de som, a geladeira. A vida foi embalada enquanto coisa e com ela a vida.

Fim da Guerra Fria, queda do muro de Berlim, cirandas de excedentes financeiros, tecnologias desembarcadas da Guerra nas Estrelas (microondas, celulares, etc.) deixamos o Sec. XX certos de que XXI seria maravilhoso.

Os artistas no ou do marketing produziram um olhar para a vida, para a política, para tudo que nos cegou o espírito. O único fenômeno verdadeiramente global é o consumo.

Não tem aqui nenhuma mágoa ou ressentimento. Talvez inveja, já que foram muito mais competentes do que aqueles que, não dando conta ou para não compactuar com a sordidez, abandonaram sua arte, sua utopia e foram fazer carreira no sistema para criar família e sobreviver.

Inveja porque há brilhantismo na arte do engodo, da falácia, da mentira. E há que respeitá-los, mantendo a dignidade. O duro do princípio da liberdade é que deve haver espaço ao adverso, ainda que torpe.

Michel Teló, esse artista que conta hoje com mais de 480 milhões de acesso no You Tube faz a cabeça do planeta jovem. Penso que não há como não reconhecer que a arte é sim a alavanca para a transformação da realidade ou mesmo serve a manutenção do status quo.

Ver o alcance de Michel Teló me corrói o espírito, porque no mesmo veículo de comunicação ( You Tube) entrevistas de Adriana Varejão, Eduardo Galeano, Manoel de Barros, Chico Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Ángelles Mastretta, Fernando Trueba, Jorge Castañeda, Fernando Morais, Walter Carvalho, Leonardo Boff, Aderbal Freire Filho, Paulo José e uma outra pancada de outros artistas não somam, no conjunto, 500 mil acessos.

Ainda bem que minha micro-realidade compensa: lá na casa da Dindinha, ela soube hoje no ultrassom, o neném vem com peru e vai ser Galo. Falando nisso, Liz ganhou ontem do pai um vestidinho. Hoje, tomou o seu primeiro banho de sol.

Puro marketing.








Até breve.



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