terça-feira, 17 de novembro de 2015

HORRORES



Em BANAL e COMUNIDADE, contos que escrevi há alguns anos, tento apontar a constância do processo de renovação sistemática de uma das nossas mais graves mazelas: o tráfico de drogas.

Descrevo a saga de jovens vulneráveis à nossa perversa realidade em sua construção de entrada e tentativa de saída do mundo do crime.

Há zilhões de textos, inclusive científicos, peças de teatro, livros a dar-com-o-pau, filmes que abordam o tema.

Perdemos anualmente milhares de vidas de jovens com até 25 anos de idade, há décadas, e não nos perguntamos o que faz com que estes jovens optem por esta vida e enfrentamos ações efetivas para a resposta que sabemos de cor.

Com frequência vias públicas em que transitam milhares de pessoas são fechadas pelo terror da luta entre gangs ou destas com policiais.

Não quero aproveitar Paris, para lembrar o Rio de Janeiro. Não quero relativizar Terrorismo Religioso e Saúde Pública.

Quero mais do que isto, dizer que a causa destes males não se encontra nos territórios do Oriente Médio, nem em Rocinhas, Alemão, Paraisópolis, Capão Redondo. Estes bolsões explosivos e urdidores de operários da violência são, em essência, efeitos de uma causa maior.

Nosso problema não é nem o terrorismo e nem o tráfico. Enquanto não tivermos coragem de encarar esta realidade, continuaremos vertendo lágrimas de hipocrisia.

Atacar exércitos de maltrapilhos ensandecidos em áreas remotas e desertos, matando-os misturados a civis inocentes, ou contabilizar inúmeros ataques aos nossos morros, becos, vielas, aglomerados não debelará o câncer. Antes pelo contrário.

Agora, no plano global, Obama, Hollande e Putin tramam a extirpação da célula-mater do terror. Um quer o ostensivo ataque por terra e outro defende a ação via artilharia aérea. Bilhões de dólares serão gastos nos efeitos, quando poderiam estar alocados na minimização ou mitigação das causas.

No plano local vamos continuar implantando unidades pacificadoras permanentes para passar blush sobre a ferida cancerígena.

A quase certeza de que não faremos o que precisa ser feito, por força de intricadas circunstâncias, motivações e anomalias de toda natureza é o que, a mim, mais aterroriza.

Vamos nos acostumar também com o agravamento das consequências. Tomar consciência do que se passa está ficando cada vez mais desinteressante, senão estressante.

Melhor faria se me emputecesse com um vídeo que Cláudio, meu genro, me mandou ontem à noite. Nele, com Tin do seu lado, Noninha cantarola o Hino do Galo.

Posts como este não precisariam ser editados. A não ser para dizer que tanto numa questão, quanto na outra, sou absolutamente impotente para fazer qualquer coisa.



Até breve. 

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