quinta-feira, 19 de novembro de 2015

LULA



Previsão do meu horóscopo para o dia de hoje:

“Há coisas que só você entende e que não seria adequado você tentar explica-las a outrem, porque pareceriam sem pé nem cabeça. Por isso, digira interiormente essas informações e continue observando o andar do mundo.” (Quiroga, em O Estadão)

Entre o martírio da desesperança e um resto de ilusão, opto pelo segundo. O protagonista do filme Instinto, um serial killer estrelado por Sir Anthony Hopkins, em uma cena capital filmada na cela onde está preso, dá uma gravata em seu psicólogo e pergunta para o terapeuta:

- O que jamais podemos perder na vida?

Depois de duas ou três tentativas de resposta do pobre do terapeuta, o personagem de Hopkins declara:

- A ilusão. Nunca devemos perder a ilusão na vida.

Pois é.

Assisti ontem, com muita atenção, à entrevista do ex-presidente Lula ao Roberto D’Ávila na Globonews. Recomendo a todos.

Gravei a entrevista e extraí alguns trechos que me permito reproduzir aqui:

  • A gente não pode esquecer que desoneramos mais de R$400 bilhões para fazer a economia continuar crescendo e chegamos em dezembro de 2013 com 4,8% de desemprego no Brasil, o menor índice da história. Eu me sentia como um norueguês, um dinamarquês, um finlandês.
  • Não precisa ser economista e nem universitário, isso se aprende dentro de casa. Você não pode gastar mais do que arrecada.
  • A sociedade está desesperançada porque há muito tempo há um trabalho dos meios de comunicação para negar a política. A imprensa pode divulgar o que quiser, pode fazer a crítica que quiser, é um direito. Quem tem que fazer censura é o telespectador, o ouvinte e o leitor. É preciso não negar a política, não há saída fora da política. Na Itália surgiu Berlusconi, no Egito a Primavera Árabe acabou em uma junta militar.
  • As pessoas criam suas verdades absolutas, ou seja, na política não vale criar a lei do domínio do fato.
  • Fico imaginando um cidadão, que fala das dificuldades da Dilma, se tivesse um filho com febre ele jogava fora. É muito fácil cuidar de uma criança quando ela tá sorrindo, quando não pede comida, quando não está doente. Quando tá doente o que você faz?
  • Tem aí uma crise política que está difícil de resolver. Os líderes não têm a força que parecem que têm. Antigamente você resolvia isso conversando com o ministro, e o ministro de cada partido entregava os votos, depois você conversava com o líder e o líder entregava os votos. Hoje não tem mais essa representatividade. Os presidentes não mandam mais nos partidos, os ministros não coordenam mais as suas bases e os lideres também não.
  • O único limite que há para as pessoas é de agirem corretamente.
  • Não é possível as pessoas continuarem falando das pessoas da forma mais banal e venal do jeito que estamos. Mesmo assim será benéfico para o Brasil.
  • A Petrobras foi um susto para mim e para o mundo. As pessoas que participaram da quadrilha tinham mais de trinta anos de Petrobras, que entraram para a empresa nos anos setenta, nos anos oitenta. Seria importante que o Ministério Público saiba desta gente, que a imprensa saiba.
  • Eu espero que Deus um dia carimbe na testa das pessoas o que elas serão quando crescer: se vai ser um ladrão se não vai ser, se vai ser honesto ou não. A gente não sabe.
  • Só vai sair reforma política nesse país se fizer uma constituinte para fazer reforma política. Um conjunto de deputados eleitos para fazer a reforma política e com a proibição de se candidatar na próxima eleição. Para fazer uma coisa isenta.
  • Toda vez que um presidente diz que é insubstituível já começa a surgir um ditador.
  • Não há nenhuma razão para a gente não acreditar neste país.
  • As pessoas perguntam se eu vou voltar em 2018. Eu espero que o Brasil evolua tanto que eu não precise voltar. A única condição para eu voltar é se tiver um candidato que tenha um projeto que destrua tudo o que nós construímos de política social neste país.
  • A crise não foi feita pelos pobres, nem pelos pretos e nem pelos índios. A crise foi feita pelo sistema financeiro internacional irresponsável. Os países não controlavam o seu sistema financeiro, não tinha regulação, bancos nos USA podiam financiar 35 vezes o seu ativo.
  • Eu acho muito difícil que vai ter um presidente que venha a tirar o que as pessoas conquistaram. Porque as pessoas conquistaram o mínimo.
  • Economia não tem mágica, tem previsibilidade.
  • Meu filho sabe que tem que provar que fez a coisa certa, porque se ele não provar ele está sujeito à mesma constituição que eu estou, as mesmas leis que eu estou. É chato é, mas é bom.
  • Eu só tenho um valor na minha vida, um único. Não tenho dois. É vergonha na cara aprendido com uma mãe analfabeta. 
  • Eu duvido que tenha neste país, um empresário que esteja no lavajato ou que não esteja no lavajato, que goste de mim ou que não goste, que more no Rio ou more onde quiser, que diga que um dia conversou qualquer coisa comigo que não fosse possível de ser concretizada em qualquer lugar do mundo. 
  • Não está escrito na minha testa: converse comigo sobre banalidade, converse comigo sobre corrupção.
  • Eu fui presidente de sindicato, fui presidente do PT, sou presidente da república nunca um desgraçado neste país falou assim para mim: Lula, eu quero te dar uma pera. Nunca.


Quero imaginar que Lula esteja dizendo sua verdade e, principalmente, quando fala do valor que o orienta, legado de sua mãe.

Lula teria sido surpreendido por colegas de trajeto, porque “você não tem uma placa na testa de ninguém dizendo se é ou não honesto”.

Lula nunca soube de nada mesmo a respeito do que fizeram os hoje sentenciados pela Justiça, quando do Mensalão e do Petrolão.

Lula sabe e como ninguém a saída a ponto de acreditar que se alguém colocar em risco o projeto de conquista social ou se o país não evoluir tanto ele precise voltar.

Lula disse que não faz críticas e nem dá conselhos à presidenta, mas disse na entrevista que foi presidente de sindicato, foi presidente do PT e que é presidente da república.

Acho bom os adversários procurarem urgentemente alguém que supere Lula na extraordinária capacidade dele de entregar o que o personagem de Hopkins disse que é aquilo que não nos pode faltar.

Paro aqui, porque  sei que não devemos contrariar os ensinamentos dos astros.



Até breve. 

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