quinta-feira, 26 de novembro de 2015

DEPURAÇÃO



Ontem amanheci dividido. Dava importância à prisão do senador ou continuava a sequência de diálogos antecipatórios com minha netinha que nascerá nos primeiros meses do próximo ano?

Optei por um híbrido. Penso que tem sido assim o meu tempo presente. Um olho no que se passa e outro no que me passa. Um olhar para o entorno e outro para bem próximo.

Perto de atingir 900 posts este blog vai se constituindo no meu modesto legado. Impossível alguém escrever 900 textos sem se revelar por inteiro e esta tem sido minha intenção. E para quem?

A foto que ilustra o blog quer sinalizar uma resposta.

Ontem vivi um bom dia. Ainda destrambelhado por força da confusão hormonal pela retirada da tireoide, mas lúcido o suficiente para experienciar com imensa alegria o desfecho dos fatos.

Acompanhei durante toda a tarde e início da noite a transmissão da sessão do Senado e ouvi a gravação (de mais de uma hora de duração) feita pelo filho do ex-diretor da Petrobras.

Bastava a prisão, pela primeira vez na história republicana, de um senador em exercício de seu mandato para que tivéssemos um dia alvissareiro.

O desenrolar do episódio foi extraordinariamente mais intenso e relevante do que a prisão em si. Vivemos ontem um dia, que eu quero guardar, de júbilo. O Senado Federal deu afinal uma demonstração de maturidade institucional que há muito o povo brasileiro aguardava.

No post MILLENIUM escrevi: “Terror é tudo sobre o qual não se exerce controle”. O processo anárquico pelo qual o país vinha passando era, para mim, aterrorizante. O acinte, o escárnio, a mentira, a falácia, o engodo, e todas as atitudes mais vis e vergonhosas possíveis patrocinadas por políticos ocupantes de postos relevantes dava ao país um quadro de absoluta anarquia.

Até ontem, espero.

Os discursos que antecederam à votação se o voto para a manutenção da prisão do senador seria aberto ou secreto foram basilares e esclarecedores. Explicitaram e dividiram de forma transparente quem são aqueles parlamentares que merecem nosso crédito e aqueles que de há muito deveriam ser banidos da vida pública e boa parte destes presos em regime fechado.

Nove dos dez senadores que pediram a palavra antes que se desse a decisão da mesa se o voto deveria ser secreto ou aberto opinaram abertamente pela importância de que a decisão, em benefício da transparência, fosse aberto.

Ainda assim, o Presidente do Senado optou por decidir que o voto seria secreto. Face à manifestação em contrário de inúmeros senadores e, suponho, do clamor das ruas que chegava aos seus ouvidos Renan Calheiros resolveu transferir para o plenário a decisão.

Por manifestação oral dos líderes das bancadas a decisão sairia por voto aberto.

Confesso que nesse momento experimentei um lenitivo à minha desesperança. Nem tudo estava perdido neste país. Os parlamentares ficaram expostos ao povo brasileiro. Não há ninguém, de boa vontade, que não queira ver esclarecidos os fatos de forma aberta e transparente, com isenção, lisura e dentro dos preceitos constitucionais.

O senador seguirá preso. Todos os votos contrários (treze) foram de parlamentares citados na Operação Lava Jato.

A manutenção da prisão e os interrogatórios subsequentes dos outros detidos, além do político, especialmente os do banqueiro, serão peças chaves para enriquecer o processo de depuração moral pelo que passamos.

O dia de ontem também foi marcado pela nota trágica divulgada pelo Partido dos Trabalhadores. Trágica e emblemática.

Dia limpo.

Lelê volta no próximo post.



Até breve. 

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