sábado, 27 de dezembro de 2014

HORIZONTE



No rádio o poeta canta que é pista vazia esperando aviões e eu, comigo, balanço o tempo. O céu borrado de traços avermelhados anuncia que o astro rei vem a qualquer momento inundar o dia.

Esgota-se mais uma quantidade compartimentada da existência, estamos por alguns instantes para encerrar mais um ano. É morno o passar das horas, apenas fermentado pela presença em casa de crianças.

Afora as perdas inexoráveis, ganhos expressivos. Olhando não enxergo tão bem como há um ano, claro que em pequenas medidas. Mesmo com novos óculos, eu vejo que a visão se esvai, um pouquinho a cada ano. No ouvido esquerdo o zumbido permanece azucrinando a escuta.

De ganho essencial, dois netos.

De fundamental algumas ilusões renovadas trazidas do macro: um Papa que interfere; uma escola de jiu-jítsu em Jerusalém que ensina crianças árabes, muçulmanas e judias a palavra convivência; uma justiça no Brasil que assinala uma limpeza, ainda que à jato.

A minha esquerda, me aguarda O Capital no século XXI, de Thomas Piketty, best seller que recebeu de Bill Gates o comentário: “Espero que seu trabalho estimule mais pessoas competentes a estudar a desigualdade de riqueza e de renda. Quanto mais entendermos das causas e curas, melhor.”

Epigrafe na introdução do livro de Piketty: “As distinções sociais só podem se fundamentar na utilidade comum” Artigo I, Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, França, 1789.

Enunciado tão antigo quanto, a propósito no Brasil, o loteamento de cargos para sustentar a governabilidade. Trinta e nove ministérios e, entre eles, Aldo Rebelo na Ciência e Tecnologia. Pobre país desinovado.

Aqui é de todo provável que continuemos nosso espetáculo de mediocridade, quando lá atrás nos prometeram um espetáculo de crescimento: é duro de engolir 0,13% este ano.

No micro, penso em incrementar o labor profissional, também por conta das contas, que não são poucas.

No mícron, penso em continuar essas catarses, destilar meus venenos arcaicos e sem eco, minhas angústias várias, meus dissabores todos, meus olhares enviesados e desprovidos de fundamentos lógicos.

Pro ano deve de ter novas conquistas essenciais, uma helênica, quem sabe?

É o que dizem.



Até breve.

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