domingo, 30 de março de 2014

WHO



Retirei do cabeçalho do blog RUMO À OSLO construído pela verve chapliniana. Não se brinca com um sonho, mesmo que seja zinho. Não se trata-lhe sério, mesmo que Nobel.

Ontem entrou mais uma peça no meu cabeça quebrada. Teatro de representação da qual me permito a minha.

O texto do premiado dramaturgo líbano-canadense Wajdi Mouawad, traduzido por Ângela Leite Lopes, conta a saga da árabe Nawal: exilada no Ocidente em decorrência de décadas de guerra civil. Ao morrer ela deixa para os filhos a missão de encontrar o pai e o outro irmão no Oriente.

INCÊNDIOS.

Marieta Severo, extraordinária, declarou em entrevista: “Incêndios tem uma carga de poesia e de drama, revela maneiras de permanecer humano num contexto desumano...”.

Minha interpretação desloca-se da trama, busca outra perspectiva embora aquela explicitada pelo texto já seja suficientemente cruel. A questão para a qual me remeto quer apontar a tragédia humana, da natureza humana.

À Espécie Humana foi natural e intrínseca, indissociável e eterna dada a concepção umbilicalmente gêmea, a alma do mal e a alma do bem. A natureza humana pariu gêmeos, por um estrupo eterno. Terrível Criador.

Não há ato desumano, como quer Marieta, é do humano a crueldade, parida na origem. Não é correta a idéia de tudo o que deriva do mal seja des humano. O humano é gêmeo.

O Pai do Humano perdido em sua infinita eternidade, em sua universal e cósmica solidão, desespero impregnado na consciência de seus “filhos” frutos gemenianamente concebidos pelo trágico desígno.

“Agora estamos juntos, melhor”. A faca na garganta da infância.

Viver sem a utopia em acreditar possível a erradicação do mal, nos torna mais cruéis. Ou não? Gêmeos eternos, indissociáveis, determinantes porque só há paz porque se conhece e se faz a guerra, só se experimenta o amor porque é ele o outro gozo do ódio, só se faz o bem para se encontrar “melhor” em relação ao mal.

Ontem li em um jornal, enquanto aguardava no aeroporto de Vitória o embarque para o retorno à Belo Horizonte, matéria que dava conta de um assassinato ocorrido na noite da última sexta-feira. Dois miseráveis moradores de rua da cidade entraram em luta corporal porque um deles não queria que o outro espancasse um cão.

- “Mas o cachorro era meu, eu podia fazer dele o que eu quisesse!” Afirmou o assassino na delegacia.

- “Meti a faca nele porque um homem não encosta noutro homem... Eu sô homem!”.

Who I am?

INCÊNDIO.




Até breve.

Um comentário:

  1. A tarefa continua . " companheiro é companheiro fdp é fdp "
    Ontem após a peça " Incendios " eu me pasmei , sobre a realidade de o quanto somos fáceis de sermos hostilizados , e quanto é difícil remover nossas amarguras .
    Dormi com um certo gosto ruim na boca .

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