domingo, 15 de setembro de 2013

DISTINTO



O professor desenvolveu a engenhoca, tipo instrumento jamesbondiano da década de 60. Parece mais um daqueles lápis de Itu ou com um foguete de brinquedo. O líquido, fórmula elaborada tupiniquim pelo professor é introduzido por uma pipeta de resina dentro da coisa e bombeada manualmente pela esteticista.

Na parte interna do dispositivo há um cilindro no qual é introduzido um gás (hidrogênio) e na ponta do aplicador há algo que implica no fechamento dos poros da pele onde incidem as manchas senis.

Não me peçam descrição melhor sobre a engenhoca, porque o segredo da coisa está guardado a sete chaves pelo professor e, naturalmente, eu saí de lá sem sabê-lo.

Fomos parar lá amaldiçoados pelos sogros do Lé. Sempre achei que eles não nutrem muita simpatia por nós. Como já haviam sofrido da mesma vai idade empurraram essa para o nosso lado.

Além da fórmula cleneante milagreira que atinge outros vai idosos, inclusive internacionalmente, o professor desenvolveu outras particulâncias entre elas uma forte amizade com Salvador Dali.

Ele mesmo, o pintor, aquele do bigode. A relação começou depois que o professor fez a milagrência na pele da esposa (Gala) do demoníaco artista. Depois disto foi presenteado por algumas telas o que fez com que o professor montasse nas instalações de sua Fundação em São Lourenço, um pequeno museu com exposição permanente de algumas obras de Dali.

O museu, em si, diga-se de passagem, é surreal.

Há também outras excentricidades na Fundação do tipo: como o mundo acabará em 25 de março (viu Pretinha) de 2127 pela precipitação de um meteoro sobre a Terra, em 1996 o professor idealizou e construiu uma Caixa do Tempo, que deverá ser aberta um ano antes do fim de tudos.

Trata-se de uma instalação subterrânea onde o professor depositou escritos familiares de várias pessoas relatando como a vida era à época. Depositou ainda alimentos não perecíveis e outros telecotecos mais.

Sobre o solo onde está a Caixa do Tempo, mandou construir com chapas de granito um monumento de dois metros de altura por sessenta centímetros de profundidade e um metro e meio de largura. No centro há uma área vazada de um lado ao outro, fechada por um vidro de 10 milímetros. Lá dentro um imenso cristal trazido pelo professor de uma viagem expedicionária que ele fez à Amazônia.

Quando chegamos à Fundação a recepcionista nos entregou uma sequência entrelaçada de oito clips e pediu que nós a aproximássemos de uma das laterais do monumento onde está exposto o cristal. Quando o último clips da sequência agarrasse sobre o granito teríamos os nossos maus espíritos expelidos. Energia pura. Uma vez por ano, no dia 25 de março, o cristal muda de cor transparente para rosada.

Pois é. E eu que fui lá só para expelir as manchas senis, ganhei de quebra a clenância da alma.

Há ainda, na entrada do prédio principal da Fundação, uma escultura de figura masculina mitológica, cabelos espessos e encaracolados com uma grande boca e aberta para a parte interna. A Boca da Verdade. Se colocada uma das mãos e feito um pedido com muita fé, o desejo realizar-se-á.

Dizem que a Boca da Verdade serve, também, à confirmação de fatos. Caso a pessoa com a mão posta dentro da Boca da Verdade relatar algo que não corresponda aos fatos esta pessoa será vitimada por algum mal.

Ficamos sabendo que após o carnaval a Boca é muito procurada por casais de namorados que passaram separados as festas de Momo. Ali, meninos e meninos, tremem.

Pena que nossa viagem tenha sido tão breve. É de todo provável que a gente volte, mesmo que não seja para extirpar maus espíritos e nem nossas manchas senis e da alma.

Quando saíamos da Fundação ouvimos que o professor lamenta-se profundamente de que hoje há poucas pessoas dedicando-se às pesquisas, as coisas têm chegado muito prontas e, principalmente os jovens não se esforçam para criar algo inusitado e verdadeiramente sui generis.

Dali, trouxemos uma vivência surreal.

Trouxemos ainda de São Lourenço, o que nos fará lembrar do professor, quatro caixas com doze garrafinhas cada de água. Da Fonte de Pouso Alto: ESTILO.



Brigado Antônio. Brigado Beth.


Até breve. 

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