sexta-feira, 17 de maio de 2013

URBE



O gigantismo desta cidade ainda me assusta e comove. O percurso de duas horas e meia de Itanhaém a São Paulo em um taxi, logo após o término de mais um seminário, convidou-me a refletir sobre as nossas escolhas.

Vim construindo breves hipóteses de vida de quem mora nessa ou naquela cafua, sobrado, prédio cravado em condomínios, lonada construídos às margens do caminho que percorro no trajeto por rodovias, radiais, hiperavenidas, ruas e ruelas.

Do lado contrário ao fluxo que me leva ao destino vejo uma massa compacta de veículos distribuídos em vias de seis a oito pistas de rolamento com faróis acessos ou lanternas traseiras vermelhamarelas que iluminam o caos.

Quilômetros de extensão de veículos parados aguardando a partida para descerem em comboio. Ontem no início da noite ocorreu uma inversão térmica desencadeando uma forte neblina sobre a rodovia. Por medida de segurança tomada após sério acidente, a descida para o litoral, em circunstâncias semelhantes a de ontem, se dá monitorada por batedores da Polícia Rodoviária Federal.

Já dentro de São Paulo, debaixo de um viaduto, nos deparamos com pessoas em duas quadras de futebol instaladas ao lado de uma academia de ginástica montada com equipamentos refugados e encontrados em lixos industriais. Juscelino, o motorista do taxi, me diz que foram tirados do local dezenas de desabrigados, marginais e viciados em todo tipo de drogas que viviam (?) ali.

O local, portanto, serve agora à moradores de aglomerados vizinhos que deixam alguns trocados, o que podem, para o gerente do complexo de esportes, um ex-frequentador do lugar e hoje instrutor da academia.

Mais adiante veículos e ambulâncias de resgate com suas sirenes abertas passam por nós ziguezagueando à procura de espaços. Uma placa luminosa avisa que há um acidente à frente e que veículos leves devem ficar mais à direita. Quando passamos pelo local, vimos um motoqueiro esmagado sob um caminhão.

Olho para Juscelino e percebo que nada causa a ele, suas retinas fadigadas e seu coração aos calos não reagem mais à tragédia do cotidiano da grande cidade.

- “Todo dia me deparo com isto”...

Sequência de motéis, lojas de carros de luxo e de barcos de todos os pés, sexshops. Bares, lojas de todo comércio. Rios mortos, pontes, viadutos, metrô, caminhões de todas as taras, pilares onde se instalarão monotrilhos, ônibus apinhados de pessoas tristes e esgotadas. Passarelas aéreas sobre marginais, de tubos de carne humana compacta, para acesso às estações do metrô.

Um horror.

Jamais vou me acostumar com a ideia de que a evolução nos levou a isto enquanto progresso.

Já em BH tomei outro taxi e senti redução na tensão. Ocorre, porém, que ainda não inventamos nenhum projeto de cidade que evolua senão em direção aos caos.

Triste perspectiva.

Até breve.

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