sábado, 11 de fevereiro de 2012

ALIEN

Ontem não postei. Tive um dia atribuladíssimo ou, na verdade, o aditivo teve efeito reverso e estancou a hemorragia. À noite, já em Santa Luzia, pedi a Ela que me socorresse e sugerisse um tema. “Esquenta não, daqui a pouco surge algum assunto... Um filme, quem sabe?”
Aí assistimos na TV Cultura, na sessão das 22:00 horas, A vida secreta das palavras, dirigido pela espanhola (catalã) Isabel Coixet, produzido por Almodóvar, estrelado por Tim Robbins. Surpreendente.
Hannah é convocada pela sua chefia para uma conversa. Ela é operária e trabalha há quatro anos em uma indústria de embalagens. Nunca havia tirado férias, nunca se ausentava do trabalho, nenhum apontamento negativo no seu dossiê disciplinar. Exceto que não se relacionava com ninguém, não conversava com ninguém, mantendo-se permanentemente isolada. A chefia lhe mostra folhetos turísticos de lugares que ela poderia conhecer ao redor do mundo, determinando que ela tire férias por trinta dias.
Josef trabalha em uma plataforma de petróleo em alto mar. Há um vazamento de gás com conseqüente explosão e incêndio em uma das instalações. Um dos operários lança-se às chamas. Josef tenta salvar o amigo do ato suicida. Em vão. Como conseqüência, Josef fica temporariamente cego e com sérios ferimentos por todo o corpo a ponto de não poder ser removido para o continente.
Hannah está em uma lanchonete da cidade para onde havia ido gozar férias compulsórias. Ouve um rapaz falar ao celular que procuraria uma enfermeira que pudesse cuidar de um acidentado numa plataforma instalada próxima algumas horas de helicóptero.
Hannah apresenta-se.
Josef tenta de todas as formas puxar conversa com Hannah nos primeiros dias que ela passa a cuidar dele. Aos poucos Josef começa a relatar fatos de sua vida. Ele havia dado um livro para uma mulher por quem havia se apaixonado. No livro colocou uma dedicatória na qual se declara à mulher. Ocorre que ela era esposa de seu melhor amigo.
Após alguns dias de convivência, Hannah afinal abre-se. Ela sobreviveu a Guerra dos Bálcãs. Ela relata os horrores vividos durante os dez anos do conflito. Os soldados do exército de seu país foram os mais violentos com suas próprias conterrâneas. Hannah, em uma das cenas mais impactantes, diz que um soldado colocou o revólver na vagina de uma criança de cinco anos de idade, que está ao lado da mãe presa por outro militar, e atira. Vira-se para a mulher desesperada e diz: “É eu acho que você não será avó.” Poucos dias depois a mulher faleceu de tanto sofrimento.
O filme é ficção. A guerra ocorreu.
Uma assistente social que acolhe Hannah em Copenhague diz no filme que a maior dor dos refugiados é de serem sobreviventes e que o mundo inteiro sequer comenta os tenebrosos fatos ocorridos ao longo daquela guerra.
Penso que, de quando em vez, devemos nos permitir oportunidades como essa. Filmes como A vida Secreta das palavras cumprem um papel importantíssimo para ampliar nossa visão de mundo e, em que pese nossa privilegiada história pacífica, não podemos ficar alheios ao que se passa.
Amanhã espero estar menos amargo.
Até breve.  

2 comentários:

  1. O convite a reflexão foi válido.

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    1. Tê, sabe o que é melhor nesta história de blog?
      A gente receber comentários como os seus. Você poderia me ligar no celular e me dizer estas coisas todas. Mas essa sua cumplicidade enriquece e fortalece ainda mais os vínculos que nos unem. Muito obrigado, querida.

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