terça-feira, 5 de maio de 2015

OBSOLESER



Assisti ontem ao Roda Viva na TV Cultura. Quem ficou na berlinda foi o jornalista Ricardo Setti. Tem em seu patrimônio cinquenta anos de militância como repórter e dirigente dos principais veículos da mídia impressa em circulação no Brasil.

Ele disse que está abandonando a extraordinária carreira – “Tranquei matrícula” – em benefício da vida em família e do desligamento da atividade alucinante que é o jornalismo.

Apontou a decadência da mídia impressa, especialmente jornais, como formador de cultura e opinião, porque ninguém consegue manter empresarialmente profissionais que tenham o gabarito que uma mudança radical requereria.

Até algum tempo atrás uma reportagem poderia levar, às vezes, um ano ou mais para ser concluída e repórteres eram alocados para ouvir todas as fontes envolvidas no fato jornalístico até vir a ser publicado.

A web e demais meios da mídia eletrônica, passaram por cima. “O leitor depara-se com notícias envelhecidas às cinco horas da manhã quando recebe o seu jornal.” Todas elas já estão atualizadas minuto a minuto nos milhares de sites de notícias.

Por outro lado a escrita já não é o meio por onde passa a comunicação e quem nos aponta são os jovens, que preferem imagem à textos, vídeos em profusão, a face não é mais um book.

Basta ler como escrevem essa modernidade nos smarts, tablets essas coisas todas: kkkkkk... q... qdo... etc...

A escrita foi pro saco. Imagem e instantaneidade é o canal, morô?

A avalanche capitalista, em sua natureza mais profunda, vai dragando referências históricas sem deixar vestígios em ciclos cada vez mais curtos de seu processo seletivo dos melhores aparelhados para permanecerem em cena.

De um tudo.

Consumidores chineses invadem agora o comércio no Japão, comprando por preços muitos mais baixos do que seu país de origem e em qualidade infinitamente superiores.

A Índia, bola-da-vez, vem aí com tudo.

Sem falar dos meios tecnológicos construídos por cientistas cada vez mais alimentados por interdisciplinas disponíveis em códigos abertos. Sete por cento dos produtores de conhecimento em todas as áreas estão mortos, noventa e três estão vivos e produzindo conhecimento agora para acelerar ainda mais o ciclo de tudo que está aí.

A tristeza fica para os saudosos, os conservadores, os velhos. Como eu, que perdi no dial do meu carro um canal: 96,5 FM. A rádio que tocava o bom gosto.

Se querem saber assistam ao vídeo: DESPEDIDA



Até breve.

2 comentários:

  1. Lembrei desse poema de Drummond...
    http://cemnasleituraem.blogspot.com.br/2011/11/receituario-sortido-carlos-drummond-de.html?m=1

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  2. Tampax. Obrigado pela contribuição.

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