CHAMA

“O que te excita?”

A pergunta, embora tenha sido feita na cama, não estava ligada à sexo, pelo menos exclusivamente. O assunto estava mais abrangente, orientado a interesses vários sobre o desenrolar do tempo.

“Lembra quando você jogava futebol? Você se transformava em campo, lembra?”

Afinal o que move, tenciona, anima? Faz levantar inclusive o moral, o espírito, o gosto? No balançar das horas a natureza impõe ceifar interesses, vasos sanguíneos, ganas, até desejos antes latentes.

Olhado o redor à busca de estímulo, pesquisada a história, o tempo vivido, a vinda do terceiro neto, até mesmo a circunstância de momento a Copa, a Alemanha, a possibilidade de até final, tudo isto, nada disto, outros motivos.

De chofre, de trivela, com o pé de força que é o esquerdo, pegando de três dedos para dar curva e efeito na resposta, o que me excita é.

A curvatura da forma, o brilho, a cor, o desenrolar da trama, a música, a letra, o perfume, o nunca, o talvez, o quem sabe, até que se possa. Inteiro e todo. De fundo, pro fundo, intenso e leve. O bastante.

Assim mesmo, em tudo.

Menino, quando ia à igreja, às peladas, às traquinagens, às surras, aos infortúnios. Tudo me mobilizava aos extremos, nunca fui de pouco em nada. Só que do meu porte, no meu pote, com a distância que alcançava, e sempre.

Já homem, aí que valeu de tudo, por tantos e tantos motivos, deixando querências de lado como as amadas letras e, aos poucos, o adorado futebol. Raros arrancas no Veredão do Sítio em Santa Luzia, dividindo com pernas de pau, agora.

O trabalho, todo ele.

Os inúmeros alunos, sábios estetas, com suas questões excitantes, maldosas, profundas. Dez anos de olhares por diversas abordagens, saborosos diálogos, inquietantes demandas.

As viagens, todas. A próxima que vem em setembro. A China, O Japão, A Tailândia.

A casinha que se constrói (falta o fogãozinho de lenha, apetrechos) para Liz e as vindouras. Para Tom e Tin, casa na mangueira que floresce magnífica nesta estação. A floração me excita.

Você.

Até breve.