domingo, 13 de outubro de 2013

PODER


Assisti a dois filmes brasileiros na TV neste final de semana: “O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho, que concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e “Morada”, de Joana Oliveira.

O som ao redor é um filme instigante. A direção dos diálogos me fez sentir como estivesse presente nas cenas. Pela atuação brilhante de todos os atores, com naturalidade extraordinária, a sensação que passam é que foram filmados como vivendo de fato as cenas.

Parece-me residir ai a razão pela qual ele concorre ao prêmio máximo do cinema. O filme coloca o expectador tomado pela trama até a cena surpreendente no final.

Morada é um filme maravilhoso e urgente. Maravilhoso pela sensibilidade da direção, neta da protagonista e urgente porque alcança quão cruel pode ser o Estado quando invade a privacidade e o direito do indivíduo.

Morada é um documentário rodado em Belo Horizonte e trata do processo de desapropriação das propriedades localizadas ao longo da Avenida Antônio Carlos para a duplicação das vias laterais.

Dona Virginia, uma senhora que em 2008 completou oitenta anos de idade, recebeu a informação de que, por força de decreto do então prefeito da cidade de Belo Horizonte, seria desalojada de sua casa para a expansão da avenida. Isto no ano de 1954. Ela passou a vida inteira esperando pela desapropriação que aconteceu em uma sexta-feira de março de 2009, cinquenta e cinco anos após o decreto.

Joana, neta de Dona Virginia, documenta o drama de sua avó com cenas tomadas a partir de três anos antes da desapropriação e demolição da casa.

O som ao redor e Morada nos fazem refletir sobre quão frágil está o indivíduo contemporâneo que vive em cidades de médio e grande porte. Indefeso à violência que grassa e impotente diante das ações do Estado que age em nome de ações que visem ao coletivo.

Ambos reforçaram em mim o desconsolo pelas opções da modernidade, especialmente por uma das falas de Dona Virginia, em diálogo com sua neta em Morada:

- “O que eu posso fazer, milha filha”?



Até breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário