quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PAISAGEM




Ainda fazendo.

Pela manhã, bem cedo, ver a sangria de um carneiro. A vida rural é crua, diferente da urbana, cruel. A morte, ainda que de animais, se dá pela via da necessidade. Escolhido no rebanho o carneiro é levado para o centro de um dos currais. Com um machado o vaqueiro golpeia a cabeça do animal, que desfalece. Na sequência ocorre a sangria, com uma faca fina e amolada o vaqueiro sela a sorte.

Pouco depois, RIJ e ELA estão juntas resolvendo se será frito, assado, ou ensopado. Assim, pela via da cultura, um fato cru e sem drama.

Não deveria, mas me ocorre um paralelo com a banalidade da morte na selva urbana. Começo a supor que está sendo incorporada à cultura a perda de vidas humanas como um fato cru e sem drama. Alguns podem ainda até sentir compaixão, mas só. Não será mais cruel vitimar pessoas. “Afinal ele estava querendo me lesar em sete reais. Fiz por necessidade.” Crime cru e sem drama.

Volto.

Pouco mais tarde, churrasco do carneiro, almoço tipo o de ontem e cesta na rede do avarandado. Chuvinha maneira pingando de leve no verde de perder de vista, que só some quando encontra as nuvens lá no fim que se alcança.

De repente arco-íris, solão de novo e convite para banho de cachoeira.

Um dia inteiro neste cantão parece que num acaba. Falei prá RIJ que vou presenteá-la com um ventilador de ponteiros de relógio. Agitar o tempo. Mas claro que não é. O problema não são as horas, é o que nós fazemos delas no urbano.

Vou dormir hoje matutando sobre tempo e espaço.

Pudesse e fosse capaz, optaria pela vida crua e sem drama.

E ligaria o ESADOF (*).


Até breve.


(*) Palavra russa. Como toda palavra em russo, lê-se da direita para a esquerda.

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