sábado, 14 de julho de 2012

PAPO



- Mamãe.

- O que é, Liz?

- O vovô quando era seu papai brincava muito com você?

- Igual seu pai brinca com você, Liz.

- Só de noite e no final de semana?

- Igualzinho.

- Vovô contava histórias absurdas para você como conta prá mim?

- Algumas...

- Será que ele já contou prá mim todas as histórias que contou prá você?

- Eu acho que ele deve ter inventado outras...

- E você acreditava nas histórias do vovô?

- A gente perguntava prá vovó se era verdade...

- E o que a vovó respondia?

- Que o vovô era doido.

- Porque que a gente chama de doido uma pessoa como o vovô?

- Porque ele faz muita bagunça.

- Eu num acho.

- Eu, às vezes, acho.

- Quando, mamãe?

- Seu avô não fala nada sério. Eu digo prá ele que entre nós não tem diálogo.

- Quê isso, mamãe? Vovô é o mó tagarela.

- Mas só conversa fiada. Só comédia.

- Eu não acho fiada.

- O que vovô disse prá você que você acha sério, Liz?

- Que ele gosta de mim.

- Ah, mas isso é óbvio, né Liz?

- Não, mamãe. Não é óbvio não. Ele gosta mesmo muito de mim.

- E como você sabe que ele gosta mesmo muito de você?

- Pelos olhos dele.

- Pelos olhos? De onde você tirou isso, minha filha?

- Vovô falou que a gente deve sempre de conversar com uma pessoa olhando bem nos olhos dela.

- E aí?

- Se ela não estiver dizendo a verdade a gente vai saber...

- Como?

- Sabendo.

- Isso é mais uma história absurda do vovô, Liz?

- Não é não, mamãe, pergunta pra vovó pra você ver.

- E o que mais de sério que o vovô te falou?

- Que a gente tem que gostar do que a gente estiver fazendo.

- Ah, isso é mesmo importante.

- Então? Foi o vovô quem falou. Isso é conversa fiada?

- Não, isso não.

- Eu digo a nossa conversa agora, mamãe... É conversa fiada?

- Claro que não, filhinha.

- É diálogo?

- Claro, filhinha.

- Deixa eu ver direito seus olhos, mamãe... Repete o que você falou.


Até breve.

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