domingo, 3 de abril de 2022

MÚSICA

 



Assisti, ontem, no Palácio das Artes – BH, ao show de Caetano.

No início do espetáculo achei que a euforia normal carregasse por parte do público a expectativa que pudesse tornar-se um ato político. Uma ou outra manifestação nesse sentido foi tentada.

Ocorre que quem esteve em cena foi o artista e não o homem.

Aquela euforia inicial deu lugar à uma certa dormência reflexiva, na medida em que Caetano trazia composições densas e intimistas, muitas delas desconhecidas pelo grande público.

Senti o show como biográfico e com um certo aceno de saída. Caetano foi, como todo homem próximo aos oitenta anos, nostálgico. Falou sobre momentos da carreira e de pessoas chaves no seu enriquecimento, especialmente como músico. Jaques Morelenbaum, por exemplo. Gil, naturalmente.

Uma das passagens que mais me emocionaram foi quando ele se disse “tímido musical” (lembrei-me de que, para ele, músico é Djavan) e que a vida ideal é ser músico. Deparei-me comigo, quase sozinho, num aplauso efusivo.

Acho que sei o que Caetano pode ter querido dizer com isto.

A inserção de canções que marcaram a sua identidade e embalaram o espírito de milhões de fãs como eu, dão ao espetáculo, quase uma transcendência ultrapassando ao artista e fazendo dela o seu principal legado.

Caetano, portanto, em nenhum momento sugeriu, nem por um deslize, qualquer oportunidade para explicitar suas convicções políticas.

Já com ele fora do palco, na saída do público, ouviu-se parcas manifestações e palavras de ordem.

Tenho para mim que a conduta de Caetano, o artista, não poderia ser outra, reservando ao homem, um outro espaço para a cena pública.

Devo dizer, no entanto, mesmo que ele fizesse do seu gigantismo como persona, uma oportunidade para turbinar suas preferências políticas, ainda assim nada ofuscaria em mim o fascínio que tenho por Caetano.

Paguei e fui lá para assistir ao gigante, não ao homem.

Caetano, ainda que usando o recurso de teleprompter, a mim serve e servirá como um bálsamo.

Temos, entre nós, o brilhantismo de um gigante que vive a vida ideal.


Até breve.




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