terça-feira, 9 de março de 2021

TRALHA III

 





Meu pai tinha uma oficina de mecânica pesada em um balcão em frente à nossa casa em Santa Teresa. Ele trabalhou a vida inteira sozinho, nunca teve sequer um ajudante. Ele modelava peças gigantes de equipamentos para indústria cerâmica, plainas, tornos, betoneiras, marombas. Levava para um amigo que tinha uma fundição no bairro Floresta, fundia em ferro e montava usinando-as e apertando até a última porca de cada parafuso. Sozinho.

Minha mãe, de quando em vez, adentrava a oficina e com seu jeito doce de ralhar com o marido bradava: “Pepe, como você consegue viver com essa tralha toda? Vou mandar os meninos limparem isto agora!”

Os meninos eram eu e meu irmão mais velho dois anos, Getúlio. Tralha era todo tipo de inservíveis que meu pai ia depositando pelos cantos da oficina, peças substituídas, pedaços de paus, limagem de ferro, os cambau.

Entenderam, não?

Pois é, ontem a Justiça trouxe de volta à oficina de horrores uma peça mais do que usada, de utilidade nefasta.

Que falta faz uma mãe de chicote, vara de marmelo ou chinelo em punho, para fazer com que seus meninos limpem de vez essa tralha.


Até breve!


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