sábado, 7 de novembro de 2020

SILKS

 


Estou em um resort no litoral baiano. Diante da minha solidão e do silêncio ondular do mar.

Ontem, quando vinha para cá, cruzei na sala de embarque do aeroporto com uma jovem trajando uma camiseta preta com uma inscrição em letras brancas todas minúsculas: deleting...

Posts atrás, comentando sobre o filme Vidas Duplas, escrevi sobre a desmaterialização do livro, objeto físico.

Não me parece que o inevitável esteja na digitalização do livro, já que o projeto ebook deu água. A versão digitalizada não emplacou. Não é o book, em qualquer idioma, que se desmaterializa.

O que parece estar em curso é a desmaterialização da massa crítica, suponho. Aquela que se forma pela química e fisiologia neural que advém da absorção do emaranhado sofisticado de letras, encontradas há séculos, exatamente neste objeto em estado de obsolescência.

A tecnologia suplantou a compreensão. Não há necessidade de elaboração de interpretações a partir de textos sinuosos. E ninguém mais tem paciência e tempo para debruçar sobre páginas e paginas.

Nada mais demodê do que uma biblioteca, palavra incrustrada em traças.

Textões não fazem parte da curtição. Ou imagem ou vamos direto ao ponto. Papo cabeça é porre duplo. O que cola, e como cola, é o simplório dos influencers, célebres descerebrados que arrastam opiniões de superfície.

O que desmaterializa é a consciência do sujeito tirando dele sua capacidade crítica do real. Pasteuriza-se a dúvida (indispensável) e industrializa-se a resposta.

Estou pensando em fazer um silk na cor azul em camiseta branca com a inscrição: saving...


Até breve.


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