quarta-feira, 10 de agosto de 2016

FASE



Inadvertidamente estive examinando o Código de Ética que orienta a conduta da editoria deste blog. E, para minha surpresa, constatei que um dos pilares dos propósitos deste veículo é o da REGULARIDADE.

Passei a refletir das razões pelas quais o dasletra perdeu o ritmo anteriormente determinado e passou a trazer à luz, indisciplinadamente e sem uma constância regular, os seus textos.

Todos que acompanham de há muito o blog sabem que os colaboradores estrelados são ressarcidos de seus préstimos via pro bono, isto é, traduzindo em uma linguagem mais clara, não recebem nada a não ser a projeção internacional e, às vezes, local de sua peculiar abordagem temática.

A estrutura do Conselho Editorial, também estabelecida dentro do rigor do Código de Ética, não contempla nenhuma posição de comando institucional o que faculta, aos editores, uma liberdade de produção que beira à libertinagem. Isto é, cada um escreve aquilo e quando bem lhe interessa.

Sabemos de sobra que democracia sem liderança não traz bons resultados.

Contrariando minha disposição procurei alguns dos principais editores para conversar e procurar entender o que poderia estar acontecendo. Melhor seria se eu estivesse ficado no meu canto cuidando apenas daquilo que me cabe.

O primeiro com quem falei, o editor de política, me deu náuseas. Acometido por uma sonolência demoníaca ruminou algumas sentenças desprovidas de sentido lógico para dizer que seu último texto INSTÂNCIA já teria sido suficiente para que os leitores entendessem o seu estágio.

- “Entreguei prá Deus, esta porra!” foi o que grunhiu.

E voltou-se para a TV.

- “Você já assistiu esta merda”?

- “House of cards? Sim.” De fato vi até agora parte da série.

- “No segundo episódio há uma cena em que o deputado se depara na calçada com um cidadão protestando, vai até ele e pergunta se a besta não percebe que ninguém está ouvindo porra nenhuma do que grita. ‘Não quer que eles te levem para casa’? Pergunta referindo-se aos policiais que haviam algemado o cidadão em um poste”.

- “Daí?”

- “Quer que eu mastigue? Vá à merda”!

Foi o suficiente para eu deixar o colega com seus olhos postos na TV e cuspindo seus marimbondos vermelhos.

Com o editor de Artes foi lacônico. O cara, quase sempre amargurado, estava transbólico. Não me perguntem o que vem a ser transbólico, porque exatamente o meu colega visitado é quem saberia dizer alguma coisa a respeito. E ele, na conversa de pouco mais de treze minutos, limitou-se à:

- “Tô sem interesse”...

Acreditei que poderia com o ficcionista obter melhor acolhida. Fui recebido calorosamente e quando lhe perguntei se estava produzindo ele me disse que a realidade já teria suplantado qualquer estória que se possa inventar.

- “As pessoas não encontram nas estórias algo que as prenda mais do que lhe contam dos fatos do cotidiano. Observar e viver o que se passa tornou-se muito mais interessante, dramático, aventureiro e adrenalítico do que qualquer conto ou romance, peça de teatro, filme, que tais”.

Capitulado e sem saber o que fazer para energizar o blog, embora não tenha a menor responsabilidade por isto contemplada no Termo de Compromissos Editoriais, recebo em casa o velho, avô babão, aquele que tenta através de suas historinhas marotas com seus netinhos desimportantes dizer qualquer coisa.

- “Pô, cara, num vejo a hora”?

- “De quê”?

- “Falei com Noninha no face ontem e ela me disse para eu levar muita roupa de frio e botas.”

O velho babão embarca para Lages – SC amanhã para a primeira visita aos netos que se foram em mudança com os pais há coisa de uns vinte e poucos dias, sei lá.

- “E os daqui”?

- “Antônio começa a falar e Helena, por favor, não espalhe, está maravilhosa”!

- “Vê se traz alguma estorinha bacana”... Apelei.

É, este blog agoniza.



Até breve.

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