domingo, 21 de fevereiro de 2016

ALÉM




Já compreendi que devemos sair de casa a fim de adquirir meios, sejam os básicos para a sobrevivência; sejam os supérfluos para levar até onde a vaidade assim determinar.

Já compreendi também que devemos escolher alguém e constituir família, não só para propagar a espécie, como também para manter a célula-mater do tecido civilizatório.

Já compreendi, ainda, que se deve deixar um legado à posteridade, desde uma árvore plantada, filhos e/ou além destes uma descoberta que enriqueça a experiência humana.

Sim, já compreendi isto e tantas outras operações. Falta-me, apenas, entender: e, então?

Mr. Morgan, o personagem de Michael Caine no filme O Último Amor de Mr. Morgan, filósofo exitoso, professor regiamente aposentado, aos setenta e poucos anos perde a esposa e melancólico tenta o suicídio, mas se frustra. É salvo pela faxineira do apartamento.

Pouco antes do episódio ele havia encontrado uma jovem dançarina de ChaChaCha com quem estabelece um idílio amoroso. O roteiro contempla estórias outras, porém o que importa aqui é que a película conclui com o filósofo entrando novamente no banheiro da suíte de seu belo apartamento em Paris para se matar.

Parece que foi Lacan, o psicanalista francês, se não foi ele foi alguém parecido, que disse:

- O único ato verdadeiro humano é o suicídio.

Minha interpretação é a de que, talvez, porque se vai ao encontro da certeza. Somos os únicos animais que, todos, sabemos que vamos morrer.

Somos feitos para infinitas escolhas e reduzidos a uma única certeza.

É que fomos ontem assistir ao show 50 ANOS DE MÚSICA – TOQUINHO, IVAN LINS E MPB-4. No show, Toquinho disse que nunca soube quando estava compondo uma música que pudesse estar grávida da semente da eternidade.

Só terminando com o poeta Paulo Leminski:

“Confira
Tudo que respira
Conspira.

Tudo é vago e muito vário.
Meu destino  
           Não tem siso
O que eu quero
            Não tem preço
Ter um preço é necessário
E nada disso é preciso

Isso de querer ser
          Exatamente aquilo
Que a gente é...
Ainda vai nos levar
Além.



Até breve.

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