segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

ÓDIO



Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Grande Hotel, Kill Bill, Sin City – A Cidade do Pecado, Bastardos Inglórios e, agora, o oitavo filme, Os Oito Odiados.

Tarantino é muito maior do que meus elementos alcançam. Seu cinema é pico na veia, alucinógeno de uma pureza inigualável, obra que a cada capítulo, deixa marcas reflexivas indeléveis.

Ultrapassam aquilo que parece ser a sua veia temática, os Estados Unidos e suas mazelas, seus horrores da Secessão, do racismo e da xenofobia, além da natureza selvagem de parte de seus cidadãos.

Os Oito Odiados não deixa por menos neste quesito.

A cena de abertura do filme é deslumbrante. A câmera está fixada em uma cruz com um cristo de pedra sobre forte nevasca e ao longe um ponto se movimenta. Com o tempo visualiza-se a aproximação de uma diligência de seis cavalos.

Esta cena já dá conta da magia da filmagem: Tarantino gasta o tempo que for necessário para contar a história da forma que ela se deu, como se não fosse uma obra de ficção. O filme tem quase três horas de duração. Fosse um roteiro – que é também de Tarantino - nas mãos de outro diretor suprimiria inúmeras cenas, que são indispensáveis para compor a grandeza da fita.

Sob a forte tempestade de neve a diligência avança até ter que parar porque encontra, no meio da trilha, um homem sentado sobre três corpos empilhados. Trata-se do Major Sulista Marquis que tornou-se caçador de recompensas terminada a guerra e deve entregar, na cidade de Red Rock, três corpos de criminosos para receber a recompensa pela captura dos mesmos.

Dentro da diligência está John Ruth, também caçador de recompensas que contratou a diligência para levar Daisy, atada a ele por corrente e algemas, para ser enforcada acusada de assassinatos.

Os diálogos que se sucedem a partir deste encontro são primorosos carregados de metáforas através das quais o roteirista quer passar sua mensagem, além das interpretações excelentes de Samuel L. Jackson, Kurt Russell e Jennifer Jason Leigh.

John pergunta à Daisy se ela já havia ouvido falar de Marquis e revela que ele teria correspondido com o presidente Abraão Lincoln quando da guerra. John pergunta a Marquis se ele tem uma das cartas consigo e Marquis tira do bolso, dentro de um envelope, uma folha de papel e passa a John.

Daisy cospe na carta. Vale a pena assistir ao filme por isto. As sequências até a cena final são de uma sutileza, apuro estético e de fotografia, que a aparente lentidão com que transcorrem prende o espectador (durante as três horas de duração) mais àquilo que quer ser dito do que nas ações dos personagens.

Fico pensando como os americanos da gema receberam Os Oito Odiados. Em minha opinião, as universidades de lá deveriam abrir o ano letivo exibindo o filme como aula magna.

Quem sabe não surte os efeitos que a minha ilusão supôs no post anterior.


Até breve.

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