domingo, 21 de junho de 2015

CANHOTO



No momento contamos com sessenta milhões de refugiados por força de conflitos armados, fome e miséria. Esta semana foi noticiada a compra pela Rússia de quarenta potentes mísseis nucleares. Recessão com inflação aqui e dois ou três probleminhas domésticos.

Azedume.

Para o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) um homem é de esquerda quando se ocupa de questões do geral para o particular.

Importa-se com o que se passa no planeta, no mundo, depois em seu país, em sua cidade e, somente depois, e ainda, com aquilo que lhe afeta “mais diretamente”.

Estar à esquerda é, essencialmente, ter um olhar sobre o Humano, como espécie.

Fosse eu olhar para a minha vida mais comezinha não teria motivo algum para me azedar, antes pelo contrário. No porvir meus netos são mais do que lenitivos puros na veia.

O que vale, pois, a intelectualidade, manifesta por um discurso com reduzido alcance, projeção e ressonância veiculado na web? Eu deveria mesmo era estar fazendo uma ação de boa vontade.  Demandas por isto não me faltam, inclusive muito perto de mim.

Posso alinhavar um sem número de razões para prosseguir na tarefa de olhar e opinar e não mover um centavo de meus ganhos no atendimento das demandas mais alarmantes e concretas.

Serei julgado por mim por isto. Estou certo que é uma questão de tempo. Estive mais ocupado com a Humanidade do que com os homens, alguns irmãos e irmãs, por exemplo.

A objetividade do contemporâneo me assusta aos gritos, às vezes. A ausência da subjetividade, a distância da reflexão, a superficialidade do debate, a patrulha sobre a não concordância, o massacrante aculturamento do imediatismo, do aqui e agora, sem perspectiva e futuro.

Às vezes me dá um ímpeto de recolher-me à minha insignificância e ir morar em Santa Luzia. Não ler nada, nem assistir a filmes-cabeça, nem me dedicar a pesquisas na web, nem assistir a jornais televisivos, não conversar com ninguém senão sobre frugalidades.

Brincar com meus netos de massinha, guaches, bolas de futebol, carrinhos de rolimãs, pula-pula.

Curar-me da realidade objetiva e dar de costas absolutamente a tudo, reservando-me o direito de lobotomizar-me.

De sexta a domingo, contudo, estarei como curador de um evento que reunirá trezentos dos mais influentes executivos do país. Tema do encontro: Governança Sustentável.

Quem sabe?



Até breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário