terça-feira, 3 de março de 2015

VÔNÃO



Mas eu não vou embora não, pelo menos por agora.

Arnaldo Jabor em sua crônica de hoje (AUTOR) escreveu: “Outro dia, achei um livro de Agripino Grieco, um dos grandes polemistas do início do século 20 e demolidor dos burros e farsantes. E ele diz numa entrevista de 1944: ‘A obra dos escritores vale pela forma em que está vazada, pela ironia, pela irreverência, pelo que possa representar de negação dos valores oficiais. O que vale é a forma”.

Pois é.

Na mesma crônica Jabor escreveu: “Não aguento mais falar de política, de escândalos e de punições. Nossa política está tão despedaçada quanto a nossa cabeça cultural. São conceitos ralos em nossa rala realidade. A mutação cultural dos últimos anos foi tão forte, a revolução digital foi tão completa no mundo pós-industrial que dissolveu crenças e certezas. Caímos num vácuo de rotas”.

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Notícia de hoje no Globo dá conta quê:

“Melhor morrer de vodca do que de tédio”. A frase está publicada como uma das ‘citações favoritas’ na página do Face book do estudante Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, que morreu, no último sábado, depois de consumir de 25 a 30 doses de vodca durante uma festa da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp).

A frase em questão foi cunhada pelo poeta russo Vladimir Maiakovski. Está na página de Humberto logo acima de outra, "A ciência sem religião é coxa, a religião sem ciência é cega", do alemão Albert Einstein.

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O mundo não está para calouros. Os veteranos não suportam a ideia de que algo de novo sobrevenha. Em todas as dimensões da Vida ela se mostra coxa e cega. O tédio, não é o tédio derivado do ócio ou da desesperança, ele deriva da absoluta impossibilidade de furar a barreira imposta pela avalanche disforme da modernidade.

Estamos sendo dragados por “monstros” imperceptíveis que ocupam sorrateira e cruelmente nosso cotidiano, vitimando valores, crenças, conceitos, nossas criações artísticas, nossa cultura.

Não, Jabor, nossa realidade não tem nada de rala. Ela é cada vez mais densa, brutal e banal. Não há nela nada que signifique e aí reside a sua densidade. Nada é e tudo é, portanto tudo é nada.

Encontrar-se sempre foi a ventura humana. E hoje, aventura de blade runners, ensandecidos a procura de um autor. Nos falta, Jabor, autoridade para que possamos encontrar nossa alteridade.

Até Deus perdeu sua Forma.



Até breve.

2 comentários:

  1. "O senhor espere o meu contado. Não convem a gente levantar escândalo de começo, so aos poucos é que o escuro é claro." (ROSA)

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  2. Um comentário desse é balsâmico.

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