segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

PELÍCULA




Pai, vamos falar sério”...

Esta frase inicia um dos diálogos entre a filha e o pai a respeito da enfermidade da mãe, no filme Amour (Amor) do cineasta austríaco Michael Haneke. Candidato ao melhor estrangeiro no Oscar deste ano, o filme é uma produção franco-alemã-austríaca e tem, como atores, os franceses Jean Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, ela candidata a melhor atriz. Estrela no papel de filha do casal a também francesa Isabelle Huppert.

Nós não podemos deixá-la aqui assim... Deve existir algo que possa ser feito”...

Em 1966, Claude Lelouch, cineasta francês filmou Um Homem e uma Mulher, que tem o mesmo Trintignant contracenando com Anouk Aimée, ambos viúvos e reconstruindo a vida afetiva. Em 1986, Lelouch filmou Um Homem e uma mulher – Vinte anos depois, com os mesmos atores, passados vinte anos após a separação dos mesmos.

Permito-me interpretar que, quase trinta anos depois, Haneke em Amour, ao convidar o agora octogenário ator, nos provoca a uma continuidade. Quem sabe ao convidar Riva não nos instiga também a Hiroshima, meu amor?

Pois é.

Há uma cena em Amour em que Anne (Riva) pede ao marido Georges (Trintignant) que ele pegue para ela os álbuns de fotos da família. Eles estão lanchando na cozinha e ela coloca sobre a mesa, os quatro álbuns trazidos pelo marido; escolhe um deles, afasta para um canto os demais e lentamente folheia as páginas de fotos.

- “A vida... A longa vida”...

Como lidar com o inexorável fim? Como viver a decrepitude do outro com quem se viveu a longa vida? Como suportar a filha dizer que, quando criança, ouvia os gemidos dos pais se fartando de prazer? Como administrar com dignidade o ocaso de tudo, absolutamente?

Em outra cena, Georges coloca um CD de um dos alunos de Anne, que se tornou artista internacionalmente célebre. Ela ouve por poucos segundos e pede para que Georges desligue o equipamento de som. O que vale? Tudo cessa!

Em Um Homem e uma Mulher – Vinte anos depois, o personagem de Trintignant continua pilotando profissionalmente em corridas de automóveis, enquanto Anne (Anouk Aimèe) tornou-se uma renomada diretora de cinema, às voltas com um fracasso. E é exatamente em busca de um sucesso para mudar sua carreira que Anne volta a procurar seu amado de duas décadas atrás, já que pretende fazer um filme inspirado na história que viveram.

Haneke nos brinda pela arte com uma profunda reflexão. A vida é rodada para um epílogo em que nada mais importa, faz sentido, interessa, é possível. Nem mesmo o isolamento do cheiro que nos resta deixará de evidenciar o real.

A seriedade está em que nada poderá ser feito.

Nada.



Até breve.

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