domingo, 13 de novembro de 2011

DEUS

Uma CRIANÇA habita-me. Ronda-me. Em todos os dias e em todas as horas. Ela busca de mim RESPOSTAS. Desde sempre e cotidianamente ela convida a questões de conduta e caráter. Eu posso, eu devo, eu quero? Farei sessenta anos e ela continuará ali ainda, me cobrando no FUTURO.
Essa criança jamais se tornará adulta, porque ela não se fará pelas respostas que lhe são dadas. Ela não as compreenderá. Optará pela inocência, pela ingenuidade, pelo DESAPEGO.  E continuará pura, limpa, selvagem, descivilizada.
Tenho coragem de fitá-la com freqüência em minhas reflexões. Busco preservá-la em mim e nem sempre é fácil. A VIDA que corre é avassaladora e, em vários momentos, vacilo. Desde pequenos crimes hediondos como desdém a outro, egoísmo, volúpia, preguiça e ira a grandes crimes como afastamento de pessoas antes queridas, até do mesmo sangue.
Opto pelo complexo e trilho o simples, tarefa nada fácil. Meu DESEJO é de com prender-me. De encontrar significados para além do corriqueiro, do sabido, do explicado. Quero mais todo dia de mim. Essa criança me assola e me cobra.
Menino freqüentei igrejas, catecismo, comunhão, crisma. “O senhor é meu pastor e nada me faltará”. Belo dia não retornei mais, exceto quando me casei a pedido do meu santo sogro. Aquela criança já estava em mim, impregnada como tatuagem.
De quando em vez a agradeço, assim, desse jeito como faço agora. Obrigado, lançado num vazio, de fora para dentro, fundo, e eu sinto que me vale à pena. Três vezes, as mais gratas, quando me tornei PAI que me permitiu RENASCER.
Na solidão que é se fazer, estar com ela, sabendo que ela me cobra tanta PERSEVERANÇA, às vezes me assusta. Especialmente agora, quando remexo minhas memórias fósseis. Tantas oportunidades perdidas, tantos gestos indevidos, tantas atitudes, tantas perdas, tantos dizeres mal e mau ditos.
No fundo, suponho que sei. Os fins jamais justificarão os MEIOS. Faltei e falto ainda para com essa criança que me habita e ronda-me. Mesmo que eu faça cem vezes sessenta anos, mesmo que eu faça um SESSENTENÁRIO, ainda deverá ser assim. Essa criança estará ali.
Que ela tenha COMPAIXÃO de mim, pelos meus inúmeros equívocos.
Obrigado aos queridos que me legaram sua palavra.

Até breve.

8 comentários:

  1. Talvez um dos melhores dos últimos tempos. As vezes precisamos de um pouco de acidez pra gerar perolas como esta!

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  2. - Você é um meninão!
    - Obrigado.

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  3. Ficou bárbaro. Que palavra bem dada.

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  4. Eu adoro ser amiga do menino! Essa criança que você é nos traz sempre felicidades! Rirmos juntos é a melhor coisa do mundo! Bj da Clarice

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  5. Não deixe de visitar o link abaixo e ler o poema de Caeiro, Coração Vagabundo.
    http://www.podcastcafebrasil.com.br/podcasts/270-a-complicada-arte-de-ver

    e para ouvir: http://www.podcastcafebrasil.com.br/downloads/doc_download/12-270-a-complicada-arte-de-ver

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  6. Eu lhe ofereci esta palavra e curiosamente vc nos ofertou um post em uma data, para mim, muito marcante: 13/11/2009! Obrigada, Carla

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  7. Fico feliz por isto. Tenho presente que a criança que em me habita também. Você sabe disto.

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