terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

PENÚRIAS

 


- Lozinho...

- Ei, mãe.

- Você anda falando com seus amigos sobre as nossas conversas?

- Sim.

- Não devia, filho. Será que entenderão?

- A maioria sim, eu acho. Eles sabem que eu falo não “de” você, mas “a partir de” você...

- Poesia, filho?

- Uai, primeira vez que você se refere a mim assim...

- Não é verdade.

- Que eu me lembre, sim.

- Você não se lembra daquele texto que escreveu num Dia das Mães para mim?

- Claro, mãe!

- Então. Eu mandei colocar em uma moldura e fixei lá na sala de visita.

- Sim.

- Todo mundo que chegava lá eu dizia que era você, meu filho, quem tinha escrito.

- Quando você se foi, guardei comigo. Tenho até hoje em casa.

- Leia agora para mim, meu filho.

- Eu não estou com ele aqui, mãe.

- Depois, então...

- Sim, prometo, mãe.

- Lozinho, você guarda mágoa de sua mãe?

- Alguma...

- Mesmo?!!!

- Você se lembra quando você comprou uma máquina manual de cortar cabelo?

- Tinha que fazer economia, meu filho, eram tempos difíceis...

- Lembra quando a senhora foi cortar o meu cabelo e do Getúlio lá no jardim de casa? Logo que começou a máquina agarrou e você puxou e arrancou um naco de pelos?

- Doeu, né?

- Maldade pura, não foi mãe?

- E você durante um tempão dramatizava a cena pra todo mundo...

- E você ria, ria tanto de ter que sair correndo para o banheiro com o xixi escorrendo pelas pernas.

- Meu filho, não me lembre disso...

- Mãe... Manhê...

- Vou desligar, vou ter que correr para o banheiro. Te ligo, meu filho, depois. Fica com Deus.


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