sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

AMEIXA

 



É que minha mãe ligou de novo.

- Lozinho?
- Mãe?!!!
- Sim menino, não reconhece a minha voz?
- Claro mãe, mas é que... Cê falou que ia ligar só no dia 27...
- É sobre outro assunto, diferente do que te pedi...
- Ah, bom!
- Seu pai adorou que a Vera tenha pegado a semente da ameixeira da casa de seu avô lá em Elche e plantado no sítio. Só que ele passou esse tempo todo me murriando porque foi plantada atrás da casa onde bate pouco sol.
- Sim, mãe, mas...
- Espere, menino, deixa eu acabar de falar.
- Claro, mãe.
- Meu filho, uma árvore dessas das margens do Mediterrâneo não consegue evoluir sem o sol. E muito, como na casa de seu avô na Catalunha.
- Sim, mas...
- Eu já sei que a Vera resolveu transplantar pra frente da casa, naquele pátio aberto. Ali a planta vai desenvolver e não ficar produzindo frutos que não vingam.
- A senhora já sabe, então...
- Claro, meu filho. E isso vai me aliviar da falação de seu pai. “Ali num vai dar, a planta não desenvolve!” Estava cansada de ouvir essa lenga-lenga. Eu falava com ele, liga pro seu filho, liga pro seu filho. Mas você sabe como é seu pai, né?
- Não acredita nessas coisas, né?
- Não acredita em nada e continua não acreditando. Sabe até quando, meu Deus!
- Fale pra ele que o Joselone vai abrir uma cova muito larga para transplantar...
- Muito larga e profunda, meu filho, profunda para que possa perseverar.
- Sim.
- Um dia, quem sabe né, Lozinho? Um dos seus netinhos pode levar uma semente pra outro lugar...
- Pois é, mãe.
- A gente ficou muito feliz por isto aqui.
- Ótimo!
- Mãe, cê vai ligar dia 27?
- Tá ansioso, meu filho?
- Não, que é isso, tô tranquilo...
- Se eu falei que vou ligar, eu ligo, né?



Até breve.

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