sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

ERRO




Excelente Fernando Meirelles no Roda Viva da segunda-feira, 03.

Em que pese a insistência (compreensível) de alguns entrevistadores em questionar a veracidade dos fatos narrados no DOIS PAPAS, Meirelles conseguiu passar as razões pelas quais filmou mais uma bela peça para o acervo de sua filmografia.

Gosto de Meirelles. Podíamos ter mais intelectuais como ele. Humildade, assertividade, maturidade intelectual e política e, para meu encanto, agnóstico que é (como acho que sou), foi fundo na questão da espiritualidade.

Logo no início do programa ele enuncia a estrutura dos temas que quis contemplar na narrativa e chama a isso de “camadas”.

Um dos temas, talvez central, quer tratar de tolerância. Meirelles supõe ser necessário trazer esta reflexão tendo em vista a polaridade em todo o mundo e até mesmo na casa de cada um de nós.

Ao colocar os dois personagens, indivíduos de convicções antitéticas profundas, ele nos convida a pensar sobre o diálogo que se faz imperioso tanto na micropolítica (nosso dia-a-dia) como na macropolítica (no caso, dois indivíduos representantes de uma instituição do porte da Igreja Católica).

Outra abordagem é a questão da culpa e do erro. Para ele o erro é vetor natural para a evolução, inclusive na natureza. Disse-se adepto ao erro e que vê em sua criação inúmeros que o fazem crescer. Uma forma polida e inteligente de responder àqueles que insistiam em apontar os equívocos do diretor no filme.

“Não é um documentário, é ficção.”

Há ainda a distinção entre MUDANÇA e CONCESSÃO, belíssima abordagem trazida de decisões impactantes como aquelas que os dois personagens querem sugerir.

Fui fisgado por todas as camadas, mas me encantei quando ele perguntado se por ter que embrenhar-se nas questões da religião ele não sentiu abaladas as suas convicções.

“Pelo contrário, reforçou minha crença de que sim, há uma entidade que nos vela, maior, não uma figura que nos penalize, mas uma ordem de todas as coisas”.

Meirelles contribui com conduta simplória, despojada, terna e firmeza intelectual para um pouco de iluminismo nesta densa nevoa obscura que paira sobre nossas mentes e corações.

Mudando de assunto, mas com algum vínculo temático, assisti ontem no Arte1 a um documentário produzido por TV francesa sobre Inhotim. Como todos sabem nenhuma galeria e nenhum museu em todo o mundo consegue expor o que ali está e poderá vir a receber pela magnitude do porte das obras.

Bernardo Paz figura central do documentário (não é ficção), ex-marido da maravilhosa Andrea Varejão e fundador do Instituto, é privilegiado com a última fala, daí meu vínculo com o filme de Fernando Meirelles.

“Eu cometi inúmeros erros na minha vida, podem me questionar por isto, podem falar mal de mim... Mas ninguém poderá falar mal de Inhotim.”

Pois é.


Até breve.

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