segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MENDIGO




Não sei se aconteceu foi só comigo. Eu prefiro acreditar que sim. Num pode ser que todo mundo ficou sem assunto, pelo menos para produzir um texto que valha a pena de ser degustado.

Caramba, eu num consigo pensar em nada que verdadeiramente justifique uma lauda, uma lauda e meia.

A vantagem dos imbecis é que se não há nada que possa justificar um texto eles inventam e eu confesso que acompanho, às vezes. Na verdade, na maioria das vezes.

Eu gosto de música brasileira. Muito, mas muito mesmo. Pudesse eu andaria com um fone no ouvido. Qualquer hora eu tomo coragem e compro uma dessas gerigonças tecnológicas e me aparelho.

- Cê ouve o quê, Gulhô? Perguntarão.

Pois é, reside aí o assunto para ocupar este espaço. Fui ao encontro do novo, quebrar paradigmas, fugir do lugar comum daqueles caras de minha época, os caras do “falô e disse, bicho!”.

Dia desses perguntei pro Vlad, meu mais velho, o que ele anda ouvindo.

- Umas banda inglesa...

Tendi.

Aí rumei de procurar googlenando e joguei lá: as cinquenta músicas brasileiras mais ouvidas no ano de 2019. Fiquei estupefastético com a pesquisa. Listo aqui algumas com o número de visualizações no iutubes.

Ø  Zé Neto e Cristiano – Largado às traças  -  676.692.015
Ø  Zé Neto e Cristiano – Notificação preferida – 540.170.533
Ø  Melim  -  Meu abrigo  -  275.267.207
Ø  Matheus e Kauan  -  Vou ter que superar -  265.680.413
Ø  Melim – Ouvi dizer  – 205.041.403
Ø  Ana Vitória   -   Fica  -  167.783.372

Ocês que me perdoem, mas vou ser sarcástico. Se quiserem vão lá no google e engrossem as estatísticas algoritibanas.

Eu fico aqui junto com outros 1.313.259, uma ninharia, com a bobagem composta por uns tolos miltonchicanos de uma época que a gente tinha, acreditem, corações e mentes.

O que será que me dá
Que me bole por dentro
O que será que me dá?
Que brota à flor da pele
O que será que me dá?
E que me sobe às faces
E me faz corar
E que me salta aos olhos
A me atraiçoar
E que me aperta o peito
E me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo
Me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá.
O que não tem remédio, nem nunca terá.
O que não tem receita.

O que será que será?
Que dá dentro da gente
E que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito uma água ardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
E nem todos os santos
O que será que será?
O que não tem descanso, nem nunca terá.
O que não tem cansaço, nem nunca terá.
O que não tem limite.

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá?!
Que me perturba o sono, será que me dá?!
Que todos os tremores vem agitar
Que todos os adores me vem atiçar
Que todos os suores me vem encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a aclamar
Que uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá.
O que não tem governo, nem nunca terá.
O que não tem juízo.

Perdoem-me, mas minha indignação pelo que está aí é uma “água ardente que não sacia”.


Até breve.


2 comentários:

  1. " La barca, " No se Tu , Te extrano, Luiz Miguel, e por aí vai... valem á pena ouvir, ...tens razão, as músicas hoje se tornaram vazias . Um abraço. Dinossauro.

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  2. Quem dera fossem vazias apenas as canções. Muito obrigado pelo comentário.

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