sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

INVEJA



Houve um momento recente de nossa História em que tivemos que optar entre o medo e a esperança. Estávamos entrando no mais longo período de “liberdade democrática” da nação – já se foram 28 anos – e desenhávamos simbolicamente os destinos que queríamos para o país.

Os que representavam o medo eram essencialmente integrantes de uma elite apaniguada pelos mandatários, retrógrados que ameaçavam deixar o país caso aquele que representava a esperança viesse a ocupar o palácio do plano alto. Temiam que viesse um Estado centralizado com orientações socialistas de confisco de propriedades, redistribuição da riqueza financeira e de bens primários (como a terra).

Enfim, temia-se que houvesse uma inversão na pirâmide.  

Aqueles que tomaram apaixonadamente a esperança abraçaram avenidas do contorno, praças públicas, monumentos concretizando a ideia de unirem-se em prol de um país mais justo, íntegro e, sobretudo próspero, para torná-lo de todos.

Intelectuais vitimados pela barbárie da redentora de 64, artistas de todos os instrumentos, pessoas de bem apostaram todas as suas fichas em sonhos perseguidos e esperados por décadas.

Muito de nós integrantes da elite, fomos clandestinos às urnas, e colocamos nosso voto na esperança, temerosos de, se descobertos, perderíamos o emprego, o cliente, o contrato. A gente queria muito que algo acontecesse e fosse para melhor.

A esperança venceu o medo.

Dissipado o medo para onde a esperança nos trouxe? Hoje todos temos medo e, boa parte de nós, estamos desesperançados. Fomos traídos e vitimados por um leque explosivo de atos, palavras e obras que corroeram patrimônios, projetos, imagem e nos colocaram diante de um espelho que nos envergonha, inclusive externamente.

Medo e desesperança.

Atos desesperados de um projeto político ensandecido para se perpetuar no poder, convidaram ontem parte da elite para mais uma falácia. Noventa e duas pessoas tornadas “bobas” de uma corte em frangalhos foram colocadas para parecer a quem interessar possa que foi descoberta a saída.

Pelo amor de meus netinhos, chega!

Injetar R$83 bi na economia extraídos da poupança pública é mais do que incompetência é a repetição de um crime à luz da obviedade. Um dos maiores crimes cometidos pela administração pública desde sempre foi a capacidade nefasta de produzir dívida pública, jamais auditada, jamais verificada e permanentemente mantida, governos após governos de todas as cores.

Pelo amor de meus netinhos, chega!

Crime contra o futuro, quando querem nos fazer crer que o grande problema é a previdência social, que durante décadas tem seus recursos desviados por burocratas expertos e políticos corruptos. Boa parte do dinheiro poupado está na contabilidade de obras não concluídas, em copas do mundo, em hospitais que nunca funcionarão, em escolas depauperadas, em projetos que nunca se realizarão.

Crime contra a ingenuidade de um povo pautado pelo desejo de alegria desmedida. Facultar a esse povo o saque daquilo que, em tese, é o seu fundo de garantia, é cumpliciar com ele em um suicídio consumista que jamais azeitará as engrenagens da economia.

Crime contra a verdade, porque é translúcido o fato de que nenhuma contribuição provisória sobre debeladas movimentações financeiras encontrará projetos que efetivamente garantam perspectivas. O país está desgovernado.

Pelo amor de meus netinhos, chega!



Sei lá se até breve.

4 comentários:

  1. Texto brilhante, como sempre!
    Além da falta de transparência, há um grande escárnio com todos aqueles que depositaram - e alguns ainda depositam - suas esperanças nestes! Posso sugerir um novo post? O Mito das cavernas, de Platão.

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  2. Muito bom Agulho. Falou tudo! Governo incompetente, usando a mesma receita falida e a mesma retorica de sempre. Se depender deles estamos fu...

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