terça-feira, 18 de novembro de 2014

PANKADÃO



Não me parece possível que alguém que se proponha a escrever todos os dias consiga escrever algo importante todos os dias. Assim, alguém que tivesse algo importante a dizer deveria fazê-lo em um espaço mais largo de tempo, ou de uma única vez e definitiva.

Ninguém que se disponha a ler tem muita paciência para se tornar seguidor de alguém que escreve todo dia e não traz à luz nenhuma contribuição objetiva, fática. Até porque sob o ponto de vista prático a leitura deveria servir a algo, mesmo que fosse de natureza transcendente.

Em sua coluna publicada hoje em diferentes jornais do país Arnaldo Jabor escreveu: “A destruição que vemos na vida, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil. Só nos restam o cinismo e a convivência conformada com o nada”.

Na mesma coluna Jabor cita Vargas Llosa que escreveu no El País um ensaio chamado A Civilização do Espetáculo. "Agora, no lugar de 'futuro', temos um presente incessante, sem ponto de chegada. Pela influência insopitável do avanço tecnológico da informação, foram se afastando do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, sumiu toda aquela dimensão espiritual chamada de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido à vida e uma razão de ser para a existência".

“Ninguém sabe onde isto vai dar”, escrevi ontem fazendo referência a um comentário vindo de dentro do Planalto a respeito do Petrolão. Cabe aqui agora também.

Sábado estava em Santa Luzia. No meio da tarde tive que vir a BH para um aniversário de um amigo. No caminho há um centro de eventos onde aconteceria naquela tarde um show de funk, pancadão, sertanejo, essas coisas. Milhares de pessoas, jovens, dirigiam-se ao local do evento com suas camisetas customizadas e o trânsito foi interditado para dar conta da grande fluência de público.

Demorei um pouco mais do que de costume, mas consegui chegar a BH a tempo de ir ao aniversário planejado. Voltei para Santa Luzia já na madrugada de domingo. Durante o almoço ouvi de nossa auxiliar que ela não permite que as filhas ouçam funk dada a indecência das letras.

Graça Foster, a ainda presidente da Petrobras, disse que vai implantar uma Diretoria de Controle ou de Governança na empresa como a medida mais importante face aos episódios.

Aí em fui ler Manoel de Barros:

“Há várias maneiras de não dizer nada,
mas só a poesia é verdadeira.”

“As coisas não querem mais ser vistas
por pessoas razoáveis.
Elas desejam ser olhadas de azul.”

“O olho vê
a lembrança revê
a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.”

“Poucos entendiam quase nada
eu entendia um pouco menos.”

Perguntado que lugar a poesia ocupava em sua vida, Manoel respondeu: “Todos os lugares. Não sei fazer mais nada. Quer dizer: sei abrir porta, puxar válvula, apontar lápis, comprar pão às 6 horas da tarde. Essas coisas”.

Pois é.



Até breve.

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