terça-feira, 16 de julho de 2013

ÂMAGO







Viajar é, também, ir ao encontro do óbvio: cada lugar é ímpar. Não cabem paralelos, comparações, similaridades. No entanto, quando se olha para alguns prédios do centro do Rio ou de São Paulo e outros de Paris é possível lembrar um e outro. Assim como em tantas e tantas outras referências deste ou daquele lugar.

Ocorre que,  sob o meu olhar, o interior da Noruega é destes lugares impares. Viajamos muito pelas rodovias estreitas e sem acostamento decoradas por plantações de árvores com predomínio das bétulas (pinho de riga). Penhascos que se precipitam sobre vales derramando águas hora verdes hora azuis e intensas, sempre cristalinas de seus degelos. 

Suas comunidades e suas pequenas igrejinhas todas de madeira, em cores que dão às retinas um prazer como se saboreássemos telas.  
Especialmente pelo clima da época com uma chuva ou garoa leve, um frio miúdo e cortante, adensando nuvens que se confundem com o que resta de neve sobre as encostas.

Creio que o coração mais frio ao percorrer estes caminhos deve fragilizar-se com a estética e a beleza das paisagens inúmeras, com as obras de arte e arquitetura que são as casinhas, os campings, as semeaduras, as ovelhas a esmo, gado, pequenos tratores, pequenos caminhões, e fardos e fardos de feno branco guardando o futuro.

O Jardineiro Maior, O Arquiteto Maior, O Geólogo Maior, O Arquiteto Maior, enfim O Criador, fez nesse interior Maravilhas.

Li dentro do ônibus (dotado de rede wifi) a crônica do Pondé na Folha de ontem. A leitura da Bíblia difere quando lida por filósofos hebraicos ou gregos. Cristo é citado por ele como filósofo hebraico. Escreveu Pondé: "A filosofia hebraica funda regimes de verdade que leva o sujeito a olhar para si mesmo ao invés de olhar para os outros. Em vez de cultivar uma filosofia política, ela cultiva uma filosofia moral da vida interior na qual não é o barulho da assembleia que importa, mas o silêncio no qual os demônios desvelam nossa própria face".

Deixo esse pedaço do tempo da viagem dando conta de que posso, devo e quero jogar sobre espelhos meu interior.

Buscar, ainda, uma nova arquitetura.

Até breve.





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