quarta-feira, 21 de novembro de 2012

MARTA



Hoje mais leve, porque o último post foi de mortem.

Pela manhã, bem cedo, eu fazia minha irregular caminhada matinal e, em dado momento do percurso, cruzei com uma senhora de uns oitenta anos de idade que, alegre e faceira, dirigiu-se a mim:

- “Nada como ser jovem e andar depressa”...

Fiquei lisonjeado, aumentei minhas passadas e dali prá frente aquela dorzinha lombar com a qual acordo todos os dias foi esquecida.

Mais a frente uma jovem de seus quarenta anos, toda paramentada em Lycras e coisas que tais, me ultrapassou com passadas firmes e rápidas e, por um momento, eu achei que eu estaria impedindo a sua caminhada pelo olhar que ela dirigiu a mim quando da ultrapassagem.

Além dela, outras jovens me ultrapassaram. Não que elas não estivessem dando prá mim, no sentido pedalógico da expressão, claro, mas é que eu tenho o meu próprio ritmo.

Ocorre que, no ciclo, eu cruzei novamente com aquela senhora de uns oitenta anos de idade que ao me ver:

- “Você não está tão depressa”...

Ai me preocupou. Aumentei minhas passadas e de tal sorte que consegui alcançar a jovem de quarenta anos paramentada em Lycras e, quase que tocando seu ombro, deixei um olhar semelhante àquele que eu havia recebido.

Avancei destemido na expectativa de, adiante, cruzar novamente com a senhora estímulo. No entanto, fiz mais quatro voltas do percurso e, infelizmente, não encontrei nem a uma e nem a outra. Provavelmente ambas haviam concluído o seu ciclo.

No retorno para casa, passando na frente de uma padaria, deparei-me com a senhora de uns oitenta anos de idade saindo dali, com uma sacolinha de compras.

- “Você vem sempre aqui”?

Eu poderia pensar que se tratava de uma cantada vulgar, mas não era.

- “Sempre que a agenda me permite”, respondi.

- “Eu venho sempre que me dá na telha”. Ela foi mais sincera.

- “A senhora costuma fazer a caminhada sozinha”?

- “Ah, sim... Meu marido não caminha mais”...

Fiquei em dúvida se eu deveria perguntar se o marido dela já havia falecido, mas antes que eu tomasse a decisão de fazê-lo:

- “Hoje ele corre”...

- “Corre?!!!”

- “É, na esteira da academia do nosso prédio”...

- “Sei”...

- “Ele diz que prefere porque esse negócio de caminhada é coisa para safenados e incapazes”...

Troquei mais algumas frases com aquela senhora, despedi-me e voltei para casa. Fiquei sabendo, poucas coisas dela, entre elas o seu nome e a idade de seu marido. O nome dela eu conto, a idade do marido não interessa.


Até breve.

Um comentário:

  1. cronicas do cotidiano ...adoro quando tem nomes de martas ,marias ,joses, euclides , juvencios .dinorah e dalvas !!!!adorei
    liz

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