sábado, 21 de janeiro de 2012

RIQUEZA

M. é tia dEla por parte de mãe. Está com setenta e três anos de idade. M. sempre diz que puxou o pai em tudo, inclusive na prática de pular a cerca. Até hoje ela mantém um romance com um homem casado. J. tem setenta e sete anos.
Há quarenta e tantos anos atrás M. foi procurada pela sua sogra, que era minha vizinha nos tempos de solteiro, para alertá-la: “Coitada da sua sobrinha, na casa daquele rapaz ninguém presta. Fala prá ela largar dele...” Fiquei devendo esta para M. até hoje. Ela não disse nada. Acho até pelo contrário, sempre deu a maior força para que sua sobrinha seguisse comigo.
Fizemos com M. e J. uma viagem a Salvador, agradabilíssima. M. e J. nos deram de presente mudas de palmeiras que foram plantadas, lado a lado, há quase vinte anos e estão hoje com mais de dez metros de altura, cada uma,  na entrada da nossa casa em Santa Luzia.
M. nos acompanhou na viagem que fiz com meu pai para a Argentina, logo após a perda de minha mãe. Ficou hospedada no hotel no mesmo apartamento junto com o meu pai. Numa noite, M. já havia se deitado. Ela preferia dormir colocando o colchão no chão. Meu pai, estabanado, não a viu, tropeçou e caiu sobre ela. Meu pai, puta puritano, ruborizou dos cabelos às unhas encravadas dos pés. No retorno ela contou para J. que disse que se encontrasse com meu pai iria matá-lo. Ainda nessa viagem M. saía com Ela para fazer compras e voltavam com várias sacolas. Meu pai perguntou a M. onde ela arrumava dinheiro para fazer tantas compras. “Com meus homens”, respondeu séria. Meu pai com muito jeito veio me perguntar se M. havia dito a verdade. Eu deixei meu velho sem saber.
J. é tipo malandrinho cocô. Minha filha sempre faz referência a ele como “bicheiro”. Certa vez ele foi com M. a nossa casa em Santa Luzia. Estava vestindo uma bermudinha branca, camisa aberta até o peito ostentando uma corrente com sei lá o que dependurado e calçava um desses chinelos de couro que já foram sandália franciscana. Contador de vantagem, macho pacas e tal. Na juventude foi amigo do meu sogro e conta que ambos aprontavam porque a família de M. não queria nem um nem outro rondando-as. Meu sogro conseguiu furar o bloqueio, J. não. Acabou casando-se com outra.
M. casou-se e foi morar fora de BH. Ficou por lá vários anos. Quando voltou J., ainda casado, partiu prá cima. Pouco tempo depois M. ficou viúva. Uma longa história poderia ser contada, dessas que merecem certo cuidado e juízo.
Estivemos, ontem, visitando M. em um hospital. Ela estava com riscos de uma embolia pulmonar e foi internada em regime de urgência. Rimos muito, como sempre, especialmente quando J. é o assunto. Uma das características marcantes do sujeito é o ciúme. Certa vez ele perguntou a M. se ela iria sair de casa e ela disse que não. J. colou sobre o solado de todos os calçados de M. um pedaço de fita crepe. No dia seguinte revisou a todos. Por sorte dela, naquele dia nada a havia estimulado a sair.
M., ainda no hospital, nos contou que J. sempre diz a ela que ela irá morrer primeiro do que ele. “Não vou deixar você prá nenhum outro”, ele diz.
J. se cuida muito. Corre cinco quilômetros todos os dias. Está inteiraço. É bom mesmo que ele se mantenha. Se M. puxou a mãe, vai beirar prá lá dos noventa.  Conversamos a respeito e ela com seu sorriso maroto de sempre: “Eu adoro a vida.”

Até breve.

2 comentários:

  1. Mozinho, morri de rir desse caso! Posso até te ver contando ao vivo! Adorei. Bjs Cla

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  2. Atualmente, estamos brigados. E agora Nao quero mais saber de J. Ele Ta Me enchendo o saco. Mandei ele fica com T.

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