quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ALIANÇA DOIS




Ainda sobre História de um Casamento.

Eu não vim ao mundo para atender às suas demandas e nem você veio para atender as minhas. Se em algum momento nos encontrarmos e conseguirmos conciliá-las poderá ser maravilhoso. Do contrário nada poderá ser feito.

Parece ser esta a questão determinante das relações e não só daquelas de nossos desejos mais íntimos. Somos feitos, essencialmente, para nós ou para os outros?

Quando Bergman filmou Cenas de um Casamento vivíamos o pós-guerra e Sartre e Simone foram fundo nas questões do Ser. Era um tempo de rebeldia e dele derivou, sem dúvida, muito do que está aí hoje.

Para Sartre quando alguém escolhe casar, mantém presente algo estabelecido, aceito e compactuado pela sociedade. Portanto, determinado pelos outros.

No tempo presente em que é mais dramático parecer ser do que Ser, as relações mais íntimas amplificaram exponencialmente a complexidade de Ser a Dois.

Os ditames independente de seus matizes, se mais liberais ou conservadores, impõem circunstancias ao viver muitas vezes insuportáveis. E viver fica mais comezinho. Ou, se quiserem, menor.

Provavelmente nunca foi tão difícil Ser. E, mais provavelmente ainda, nunca foi tão difícil Ser com o Outro, já que não é possível ser para o Outro.

Gosto de olhar para a proposição de Noah nesta perspectiva, embora a dimensão do filme permita uma lente muito mais ampla de abordagem. Aliás, como de resto, toda boa obra de arte.

Presumo que as circunstâncias externas impostas pela ambiência, especialmente pela avassaladora pressão midiática em que tudo está explícito, torna o encontro entre duas pessoas cada vez mais desafiante.

Enfim, eu não escolho alguém e alguém me escolhe. A questão é o que remete aos outros a nossa escolha e, parece residir aqui, um drama do contemporâneo.

Eu Sou? Ou devo ser conforme?

Para Pierre Cardin, aquele costureiro da época existencialista, o que move o mundo é a Moda e a Fome. Nunca dantes neste mundinho de Deus os dois vetores estiveram tão presentes.

Não que um casamento deva necessariamente durar para sempre por força de um dos preceitos caducos de determinada Igreja. Vinicius poetou sobre, quando iluminou de que deva ser infinito enquanto dure. Não, mas a questão não é essa.

Quando nos deixarão viver de fato a nossa imensa procura por Ser, por ter uma individualidade complementada por força de uma escolha quase cega de um Outro igualmente demandante e literalmente cego das duas orelhas?

No filme a personagem de Scarlett se casa de novo, não é?

Caramba, às favas, as circunstâncias! Permitam.


Até breve.

Obs.: Acho que o post serve também para casais homoafetivos.

2 comentários:

  1. Eu nunca entendi o que minha mãe queria dizer quando a gente eventualmente se machucava e chorava, ... ela costumava dizer, " Não se preocupe, que quando casar ...sara". Eu nunca entendi, acho que poderia ser invertido, né? ... Quando sarar...case.
    Um abraço, feliz natal . Saúde.

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