sábado, 21 de setembro de 2019

PÁSSARO




“Ser um homem que se equilibra entre a indignação profunda do que seus olhos veem e a doçura tocante do que pode perceber além disso. Se um dos dois vencer a batalha, o caminho, talvez, tornasse-a algo temerário”.
Chico Cesar


Sumi daqui. Se fosse me justificar diria que por razões relevantes. Uma delas, a de sempre há mais de cinquenta anos: o prosaico de ter que ganhar a vida. Letrar sempre foi apêndice da minha existência.

Se bem que, entre um palpite e outro em reuniões corporativas, li de Sarah Bakeweel seu livro eleito um dos dez melhores do ano pelo New York Times, No Café Existencialista – O Retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e a rebeldia andavam juntas.

Mais de quatrocentas páginas de puro êxtase.

O que é ser livre? Temos uma natureza fixa ou podemos ser o que escolhemos? Se somos livres para moldar nosso mundo, como queremos que ele seja? O que é viver uma vida honesta e autêntica? E por que nos esquecemos sempre de nos maravilharmos por estarmos aqui, neste momento, nesta terra?

Essas perguntas foram feitas pelos existencialistas, um grupo de filósofos e romancistas cuja história se alongou dos anos sombrios do período entreguerras até a efervescente Paris do fim dos anos 40 – e além.

Ao confrontar os problemas mais básicos da existência humana, eles desafiaram a ortodoxia de sua época e deixaram suas marcas na cultura jovem dos anos 60, nos direitos civis e nos movimentos de libertação.

Eu mesmo fui vítima. Cabelos nos ombros, barba por fazer, macacão jeans, camiseta surrada, chinelos de sola de pneu. O assunto da filosofia é tudo o que você vivencia, como e enquanto vivencia.

Minha existência é ativa: vivo-a, escolho-a, e isso precede qualquer afirmação que eu possa fazer sobre mim mesmo. Mesmo que isso se assemelhe ou se configure como angústia, é assim a vertigem da liberdade.

Nos muros – (caramba) as pichações, nunca as fiz e não sei se me arrependo.

ü      É PROIBIDO PROIBIR
ü     UM HOMEM NÃO É BURRO E NEM INTELIGENTE: É           LIVRE OU NÃO É.
ü     SEJA REALISTA: EXIJA O IMPOSSÍVEL.
ü     TÁ TUDO CERTO, MAS TÁ ESQUISITO.

A filosofia fica mais interessante quando seu perfil tem os moldes de uma vida. Da mesma maneira que a experiência pessoal é mais interessante quando refletimos sobre ela.

Talvez estejamos prontos para voltar a falar de liberdade – e falar sobre ela de maneira política também significa falar sobre ela em nossa vida pessoal.

A citação que fiz de Chico Cesar, o iluminado paraibano, retirei de seu último trabalho “O amor é um ato revolucionário”, dá conta da ideia.


Até breve.

Bakewell, Sarah – No café existencialista. O retrato de uma época em que a filosofia, a sensualidade e a rebeldia andavam juntas / Sara Bakewell, 1ª edição – Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

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