sexta-feira, 14 de abril de 2017

CÂNCER



Odebrecht é uma verruga inflamada. Se se fizer uma incisão mais profunda descobrir-se-á quão mais grave e profundo é o estado do paciente. Aliás, feita a incisão e constatada a extensão da metástase, melhor não abrir o corpo. Talvez ele evolua para óbito, pós-cirurgia.

Supor que Odebrecht é o todo do abcesso é avaliação para principiantes ou desinformados ou mal informados. Claro que não é uma verruga qualquer, há dolorosas ínguas derivadas dali que, de quando em vez, produzem um quadro febril no paciente.

Odebrecht, no entanto, não passa de uma ferida que afinal desnudou a verdadeira situação. Odebrecht é, apenas e tão somente, uma pequena ferida exposta.

A metástase envolve tantas outras semelhantes que, há décadas, operam como hospedeiras do Estado, em todas as esferas da administração pública, municipal, estadual e federal.

Não há nenhuma operação que envolva a administração pública que esteja hígida. Serviços gerais de infraestrutura, aquisição de insumos, móveis, equipamentos, medicamentos, cultura, esporte, lazer, serviços de saúde e educação, ciência e tecnologia, relações internacionais, contratação de mão-de-obra, enfim todos os contratos são celebrados dentro de uma modelagem contaminada por políticas e práticas que envolvem inúmeras e repetidas irregularidades.

Provavelmente, menos evidente e profunda, a mesma situação se repete na administração legislativa e judiciária.

É apenas uma questão de boca. De lagartixas à jacarés e crocodilos. Boca grande é uma expressão usada há décadas no setor verrugal.

A composição entre Sociedade Civil via representação popular com o Estado Arrecadador é, por natureza, espúria e vil. Em nenhum momento da história nacional vimos nada de diferente daquilo que a verruga Odebrecht marca. Nem mesmo na época das redentoras, todas elas, território de vilanias inconfessáveis. Os porões não escondiam apenas atrocidades, mas e, sobretudo, negociatas.

O modelo democrático, essa obra de ficção e de covardia social, vendida por gangsteres que se aglutinam em torno de projetos de poder para defenestrar a coisa pública não é de hoje que está aí e, em minha opinião, é o que precisa ser exposto.

A esfera política se estende nas veias do tecido social vitimando-o por condutas nefastas que trazem um imenso prejuízo moral, maior talvez que o econômico e social. Pesquisas de instituições de investidores internacionais apontam que o maior risco de aplicação no país diz respeito à relação de confiança na celebração de contratos.

Nós brasileiros, todos nós, não somos confiáveis. Nada mais atual do que De Gaulle.

Sempre ficamos com o dedo em riste, escolhendo lados para nos encobrir da nossa patológica omissão. Lula é bandido, Aécio é bandido, Jânio é bandido, Lott é bandido, Getúlio é bandido, Lacerda é bandido, Renan é bandido, todos são bandidos.

Todos ungidos por nós. Os que acusam tendo os escolhido.

E o fazemos com tal alienação que beira à alucinação, vestindo cores, jingles, canções, manifestações de toda sorte, esquerda, direita, fascista, homofóbico, racista, mas não nos damos conta que em tudo estamos.

Ou a gente vai prá casa e se olha no espelho ou vamos continuar alimentando mentiras que matam.





Até breve.

4 comentários:

  1. Texto que desperta reflexões. Parabéns!

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    1. Sérgio, obrigado pelo comentário, mas, amigo, eu queria muito que reflexões pudessem advir e pavimentar novos posicionamentos. Forte abraço.

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  2. No ponto, Agulha! É triste, mas dói! Principalmente para gente como eu que (talvez ainda "só poeta") tenha ficado a sonhar com coisas que não estão nem à esquerda, nem à direita, nem ao centro. Estão no Limbo da Nossa Alma Perdida!

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  3. Ou a gente vai prá casa e se olha no espelho ou vamos continuar alimentando mentiras que matam.
    Putz!!

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