domingo, 15 de maio de 2016

PÍLULAS



Em artigo na Folha Vladimir Safatle escreveu: Nós acusamos. Prefiro atribuir o texto ao cidadão Vladimir e não ao filósofo Safatle. Penso que à Filosofia não cabe “acusar” no sentido de apontar, cabe antes interpretar, quando possível, nuances. A máxima filosófica socrática contempla: “A única coisa que sei é que nada sei.”.

Não fosse assim a Filosofia não seria considerada a mãe de todas as ciências. O que move o espírito amante do saber é sempre aquilo que ele ignora. Daí a razão de todas as descobertas: a ignorância.

Daí, talvez e também, a razão pela qual quando pessoas afirmam por demais suas convicções usando muitas vezes de forma bélica, as nomeamos como ignorantes.

Outra máxima filosófica (não tenho a autoria, isto é, não sei quem foi o autor) provoca: “A mentira tem pernas curtas.”.

Quero partir de ambas, da minha ignorância e da máxima da Verdade, e lofisofar.

Penso que a tese e estratégia de defesa da Presidência da República podem ter sido formuladas de maneira equivocada. Senão observemos, se alguém ainda reúne paz e ciência para tanto:

1. O processo do impedimento está viciado já que conduzido por parlamentar que usou de vingança mórbida além de desvio de finalidade e responsabilidade.
NOTA: É como matar o emissário quando não se quer aceitar a mensagem. No caso pelo fato de que o emissário estar mais sujo que pau de galinheiro (enunciado lofisófico) e ser unanimidade nacional. Por outro lado negar os gritos de milhões bradados a partir de junho de 2013.

2. Trata-se de um processo sem legitimidade, um atentado contra a Constituição, portanto um Golpe.
NOTA: Até o pobre do Francisco foi demandado e, como era de se esperar, sugeriu a harmonia e a paz entre os brasileiros. Nada mais regular (chancelado pela Suprema Corte) e pacífico do que as manifestações de todos nós ao longo do processo. Comparações com 64 são tolas, ali o Congresso foi fechado, portanto o povo foi tirado do processo.

3. Não ocorreu crime de responsabilidade. Aceitar que tenha ocorrido é, necessariamente, condenar a todos os governantes que também o praticaram. 
   NOTA: Não é possível que sejamos todos ignorantes (latu sensu) e não entendermos minimamente que, fosse assim, poderia eu justificar a justa razão de meus crimes por que outros também as tiveram. Aliás, é exatamente por isto que clama a sociedade: quando da ocorrência de crime, que todos sejam punidos com o rigor da Lei.

4. A presidente é uma mulher honesta.
NOTA: Mesmo que seja, porque pairam dúvidas, ela não está sendo julgada por conduta moral, mas por prática delituosa prevista em Lei.

5. O vice-presidente é um oportunista, traidor.
NOTA: Mesmo que boa parte de nós não ignoremos esta possibilidade, ele teria sido escolhido para ocupar a chapa e ajudar a vencer as eleições. Há outro problema: a Constituição Federal assim o determina.

Juro que não volto a este assunto. Formulei aqui apenas para recomendar aos filósofos e estrategistas da presidente - sim porque ainda ela o é senão não teria moradia, transporte, alimentação, plano de saúde e outros benefícios - melhor que mudem para a elucidação dos fatos.

Por exemplo, entre tantos outros:

1. Reconhecer que ocorreram equívocos sérios como a expressiva desoneração fiscal que transferiu recursos vultosos de empresas transnacionais para os seus países de origem;

2. Reconhecer que a expansão de crédito criou bolha de consumo fictícia muito para além da capacidade de pagamento de seus tomadores;

3. Reconhecer a negligência com os fragrantes desvios nas empresas públicas e na contratação de obras de infraestrutura, especialmente aquelas destinadas à realização da Copa do Mundo, diga-se de passagem, algumas até hoje inacabadas ou, pelo menos uma aqui em BH que desabou transformando R$460 milhões em pó;

4. Aceitar que omitiu da sociedade, por ocasião do período eleitoral, a verdadeira situação das finanças públicas;

5. Justificar que a necessidade de investir de maneira maciça em programas de alto impacto social se deu com vistas a manter o projeto político de defesa aos mais necessitados e, portanto, para vencer as eleições de 2014;

6. Reconhecer que, tendo perdido base de sustentação parlamentar, não tiveram condições e nem competência para vir à sociedade e denunciar o boicote ao governo com inúmeras pautas-bombas que travaram todas as possibilidades de governança.


Como disse, juro que não volto a este assunto, mesmo sabendo que mentir torna-nos cada vez mais ignorantes. Latu sensu.



Até breve. 

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