domingo, 18 de setembro de 2011

SOBREVIVENTES

Estou desde sexta-feira em mais um evento da Consulting House no Hotel Jequitimar da Rede Sofitel Luxury na praia de Pernambuco, Guarujá, São Paulo. Manhã livre neste domingo. Já me banhei das águas frias desse mar.
Relato de maneira breve algumas partes do profícuo encontro em que estiveram mais de cem acionistas e executivos e seus respectivos acompanhantes.
Fiz a abertura de um dos módulos do evento com Álvaro Mangino, uruguaio que em 1972 junto com outros quarenta e quatro passageiros e tripulantes sofreu acidente aéreo na Cordilheira dos Andes. Álvaro relata momentos cruciais dos setenta e dois dias em que ficaram perdidos na geleira com temperatura inferior a trinta graus centígrados. Das quarenta e cinco pessoas envolvidas no acidente foram resgatadas dezesseis com vida e uma história sem precedentes para contar, o que fizeram somente trinta anos depois de ocorrida a tragédia. Um dos trechos mais impressionantes é quando Álvaro relata que coube a ele, por força das suas circunstâncias (ficou praticamente imobilizado porque teve uma das pernas quebradas no momento da queda), a tarefa de cortar os pedaços dos colegas mortos para alimentarem-se.
Nosso governador, Anastasia, fez uma das palestras do evento onde abordou a questão da gestão fazendo paralelos entre a pública e a privada e quão é difícil conduzir a máquina do estado. Saí da palestra com a impressão de que continuamos num impasse histórico enquanto sociedade: optamos por governantes autoritários e/ou corruptos que atropelam a administração em prol de interesses quase sempre privados e espúrios ou optamos por líderes honestos, mas paralisados por uma burocracia anacrônica que emperra a máquina? Optamos pelo “rouba, mas faz”, ou optamos pela honestidade com paralisia? Claro, nenhuma coisa nem outra, mas então o quê? Grande encruzilhada da democracia contemporânea. Para Anastasia, por quem tenho especial admiração, a bola está com a sociedade e há sinais importantes de avanços, mas que provavelmente serão necessárias décadas de revisão de nossa Cultura para que ocorra, de fato, alguma mudança significativa. Quem sobreviver, verá.
Participei do Painel: Impactos resultantes dos processos de Fusão, Aliança ou Aquisição de Empresas. O moderador foi um diretor da Natura e na mesa estiveram contribuindo para o debate: uma diretora da Trench, Rossi e Watanabe Advogados (uma das mais conceituadas e demandadas bancas do mundo sobre o assunto), um diretor da Oracle, um diretor da Pepsico, um diretor da TAM, um diretor do IBOPE e eu.  Contribuí ao longo do painel com algumas provocações: originalmente, antes do processo de fusão, aliança ou aquisição, a empresa já se encontra diante do desafio de harmonizar as áreas internas que operam dentro de um cenário de grandes incertezas. Com a possibilidade ou concretização do processo ocorre a amplificação desse desafio porque chega um estranho, oportunizando desajustes organizacionais e ampliando o rol de incertezas. A organização que o recebe fica entre a agregação, a conformidade ou a conduta predatória de seus colaboradores. Na sessão dos debates um dos participantes da plenária queixou-se da morosidade do CADE na análise dos processos e pediu a opinião dos painelistas: a minha foi que eu lembrei-me de que, aos vinte e nove anos, operei de vasectomia e o médico me deixou durante mais de meia hora deitado na mesa de cirurgia, quando voltou reclamei com ele da demora e ele me disse que por várias vezes muitos pacientes antes da meia hora desistiam da operação. Em outro momento um participante disse que deveríamos importar dos americanos (mais essa!) a sua forma pragmática de tomar decisões. Devemos ser “curtos e grossos” e dizer a todos os envolvidos: vai ser assim, assim, assim... E também pediu a opinião dos painelistas: a minha foi de que me lembrei do Generalíssimo Franco, ditador espanhol, responsável por eu ter nascido no Brasil. Meus avós paternos emigraram para a América do Sul, quando da penúria resultante da guerra civil espanhola. Contam que Franco estava agonizando no seu leito de morte, quando entra o seu ajudante de ordens e diz:
 - “Generalíssimo, o povo está na praça...”
- “O quê que eles querem? Pergunta o ditador.
- Vieram despedir-se do senhor... Diz laconicamente o ajudante.
- Prá onde eles vão? Consulta-lhe o grande generalíssimo.
Na verdade, pairou sobre o debate, tanto por parte dos painelistas quanto dos participantes da plenária uma preocupação com o impacto sobre os demitidos no processo de fusão, aliança ou aquisição de empresas. Comentei que estive envolvido em projeto de preparação para a privatização de uma grande companhia de São Paulo que foi desmembrada em quatro empresas. Em um dos quinze workshops que conduzi com um total de novecentos e sessenta executivos daquela empresa, um dos participantes veio me perguntar:
- “Porque esquartejaram a minha mãe?”  
Viver está mesmo muito perigoso.

Até breve.

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